[RP OFICIAL] Make it all worth the while

I. Whiskey Lullaby

Bluebird café xx with Shadow xx wearing

Detetive

Em algo ela tinha razão. Era muito difícil, senão impossível para Shadow entender como ela conseguia dizer que sempre o amou, quando em contrapartida agiu inverso a esse suposto sentimento. O detetive queria crer na veracidade dessas palavras, só que a raiva e as evidências não cooperavam.

O celular sempre esteve ligado. O endereço nunca mudou. O emprego nunca mudou. A viatura era a mesma. Levando tudo isso em consideração, Shadow se convenceu que ela nunca quis procurá-lo de verdade.

No estacionamento, apenas eles. Os donos dos vários carros estavam curtindo a noite no Bluebird, enquanto seis anos de dor começavam a ser resolvidos.

Se tem algo que Shadow odeia mais do que fazer qualquer mulher chorar, é fazer Louise chorar. Ele queria dar um abraço apertado nela, beijar sua boca e dizer que ia ficar tudo bem. Mas não ia. Os seis longos anos não foram suficientes para apagar a lembrança de Mackenzie. Nem a bebida. Nem o trabalho. Nem qualquer outra coisa que tenha tentado.

— O que?

Outra pessoa. O que isso significa?

Ela falou sobre o pai dele e isso quase o fez abaixar a cabeça. Quando o chefe de polícia ou qualquer outra pessoa tocava no assunto, Shadow não dava importância. Só que querendo ou não, Louise era sua fraqueza. Como é difícil para ele ser forte perto dela.

— O Velho morreu. — Tomou fôlego — Pouco tempo depois que você foi embora. Primeiro perdi meu melhor amigo, depois o Velho e você. Que vida de merda. — Sorriu com ironia e desgosto — Não quero te ouvir dizer que me atrapalharia, porque ferrou com tudo quando foi embora.

Shadow tentava tomar fôlego com frequência, mas sentia-se asfixiado, fraco, como se prometeu que não ficaria caso a encontrasse de novo. Ele passou as mãos sobre os cabelos e cruzou os braços, queria entender o que ela disse.

— Quem é essa outra pessoa? Deve ser alguém muito importante. — Debochou. O detetive não fazia a menor ideia de quem era. Mas queria entender tudo, para que pudesse esquecer Louise de uma vez por todas e finalmente recomeçar sua vida.

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Life ain't long enough

O violão pendia na lateral do corpo feminino, que movia-se para a direita. A loira observava o salão lotado, alguns rostos conhecidos em meio a multidão e ela sabia o propósito maior de estarem bem ali. Era a primeira vez em sua vida em que decidiu mostrar um pouco do que sabia fazer com o instrumento e um microfone, tendo os amigos bem a frente do palco para lhe darem algum apoio. A timidez era muito mais forte do que poderia explicar e por mais que soubesse que não decepcionaria, não encontrava um modo eficaz de se livrar do nervosismo.

— Suba. — Olhou para trás, dando de cara com o sorriso amável de Bill. Quantas vezes já não havia sido instigada por ele a usufruir o palco?

— Não sei devo fazer isso, Bill. É muita gente. — O sorriso nervoso assumia uma imagem quase preocupante, se não fosse pela ansiedade de ter uma opinião de tantas pessoas em resposta.

— Eu fui obrigado a discursar hoje, então não estarei nesse barco sozinho. — Ele tocou-lhe os ombros com as duas mãos. — Além do mais, de nós dois, não sou eu o que possui talentos para usar um microfone.

Ambos riram.

— Não foi isso o que eu vi.

Bill deu um tapinha no ar, e a empurrou de frente para as pequenas escadas, obrigando-a a subir. As atenções voltaram-se momentaneamente para o palco, onde agora se encontrava. Havia sido atirada aos leões pelo seu padrinho de cantoria, os sentidos alarmados enquanto o rosto pegava fogo. Scott anunciava com um grande sorriso a primeira atração da noite, surpreso com a boa vontade de Raelynn em se dispor a cantar. Logo ela.

— Quebre a perna! — Todos ouviram o gritinho de Bill.

— Ora, não estamos na Broadway, Bill. Boa sorte serve. — respondeu, alguns risinhos acompanhando o som de sua pequena risada já de frente ao microfone, ajustando-o para sua altura, no pedestal. — Okay… Boa noite, pessoal. Nunca fiz isso na frente de tantas pessoas, então…. Qualquer coisa matem o Bill. — cumprimentou a massa de pessoas com um aceno breve de cabeça, piscando para o senhor e puxando o violão para a posição correta. Era a hora de começar.


Apesar da vergonha, não poupou a animação logo nos primeiros acordes, o sorriso largo tão vívido e iluminado que evidenciava a timidez tão nitidamente quanto o rubor que se encontrava presente nas bochechas da cantora. Sua voz era inconfundível, de fato. Não era uma Phoebe Jekinson ou Taylor Swift, mas tinha um timbre tão único de interpretar uma música. Enquanto batia a ponta do pé esquerdo no ritmo das batidas iniciais, viu quando as primeiras reações se fizeram presentes e uma quantidade considerável de pessoas batiam palmas no ritmo da canção iniciada. Era uma homenagem a Blue Bird, apesar de não ter tanto a ver com a história do café, fora o fato de esta ser a música que mais havia escutado nos últimos dias.


Bill juntou-se ao amontoado de jovens, levando sua esposa consigo. Esticou o braço direito  para cima quase como o Super Homem, instigando-a a continuar ali em cima. Enquanto cantava, voltou os olhos para o restante dos amigos que estavam ali por ela, direcionando algumas estrofes para o grupo de sete pessoas enquanto recebia dancinhas e gritos em resposta. Scott acompanhou a voz dela enquanto também fazia os acordes no banjo, animado por ver Raelynn finalmente expondo o talento.


Ao passar para a segunda parte da música, alternou o olhar entre a multidão, mirando algumas pessoas enquanto o sorriso apenas aumentava. E ela não se importaria de sentir o maxilar dolorido mais tarde. Se fizesse ideia do quão libertador era a sensação de subir em um palco, já o teria feito anteriormente.


Scott aproximou-se pela direita enquanto Wes chegou pela esquerda com a guitarra, os três dividindo o microfone enquanto moviam os próprios corpos em pura animação. A música era conhecida, lançada por mais um dos integrantes da nova geração da Country Pop Music, e aqueles que reconheciam a letra não poupavam ar nos pulmões e soltavam a voz junto deles. Bill sentia uma imensa alegria por sua menina estar ali, conseguindo uma vista mais ampla do quão poderia ser bom para ela estar ali em cima mais vezes. E não se referia apenas a construção de uma carreira. Ele e todos os presentes no Blue Bird podiam notar como cantar deixava Raelynn bem.


Wes rodopiou ao redor do próprio corpo, sobre as solas da bota enquanto Scott dava um pulo e erguia as pernas juntas. A loira deixou de lado o violão, fazendo-o pender outra vez para a lateral de seu corpo enquanto pegava o microfone e se aproximava da platéia. Em seu interno, milhões de borboletas batiam as asas em seu estômago, deixando-a anestesiada com a sensação de nervosismo, animação e excitação agindo em conjunto. Antes de completar a ponte para retomar o refrão, retornou para perto do pedestal, encaixando de volta o microfone no lugar, erguendo novamente o violão.


Sabia que não estava dando tudo de si, que muito mais poderia sair se o nervosismo não estivesse tão presente. Era a primeira vez que subia num palco, e para uma iniciante, estava indo muito bem. Raelynn não desafinava, não errava a letra e contagiava aqueles que prestigiavam seu pequeno show naquele momento, fazendo com que se sentisse ligeiramente uma verdadeira integrante da música Country de verdade. O ritmo foi diminuindo conforme chegava ao fim da letra, mas a animação continuou intacta até o último acorde ecoar no salão.

Os gritos em comemoração eram apenas mais um “que” para deixá-la morta de vergonha. Já havia sido abraçada por todos os amigos e até conversado com uma quantidade considerável de pessoas que foram lhe parabenizar pela apresentação. Inclusive Wes e Scott. Bill ficou por último, quase jogando-a para cima. Ela o abraçou com força, ainda tremendo e sorrindo. Era um riso nervoso, mas a cantora estava orgulhosa de si mesma. Finalmente havia saído do escuro. Não tinha a intenção de um dia ser famosa, mas um pouco de reconhecimento era sempre bom.

— Rodada grátis para todo mundo! — o velhote berrou, fazendo um grito em peso - ja que todos do estabelecimento ganhariam - ecoar no Blue Bird. Mais agradecimentos vieram de encontro a Raelynn. — Meus parabéns, minha princesinha.

— Obrigada, Bill. Você sabe o quanto isso significa pra mim. — Se abraçaram, mas ele logo alegou que precisava falar com algumas pessoas antes de retornar e comemorar junto com ela. A loira assentiu em resposta, voltando a atenção para os amigos, que lhe mostravam fotos e videos postados em redes sociais com a performance, deixando-a momentaneamente abalada.

I. Whiskey Lullaby

Bluebird café xx with Shadow xx wearing

Detetive

— Venham até aqui, suas pestes! — O Velho Joe tinha acabado de chegar em casa, todo encharcado da forte chuva que castigava a noite — O que é tudo isso em cima da minha mesa?

— Surpresa! — Gritaram todas as dezoito pessoas reunidas.

— Não é culpa minha, pai. Isso tudo foi ideia da Louise. — Este é Shadow aos onze anos de idade — Eu cansei de dizer pra ela que o senhor não gosta de comemorar seu aniversário. Mas ela me ouviu?

— Louise! — Berrou o Velho e a menina foi até ele cabisbaixa. Mas ao invés de repreender, o homem pôs a mão sobre a cabeça da menor — Fez um bom trabalho, pirralha. Todos vocês fizeram. É verdade, eu não gosto de comemorar meu aniversário, essas coisas costumam ser um pé no saco. Mas acho que dá para abrir uma exceção dessa vez. Ah, droga, caiu um cisco no meu olho. — O homem barbado na verdade estava chorando.


Shadow torceu o nariz quando Louise confirmou que a tal pessoa era importante. A vontade era de sumir daquele estacionamento e pedir transferência para o chefe de polícia, porque a cada segundo sua vontade de ficar em Nashville era menor.

Ele tentava olhar para a mulher, mas já não tentava mais disfarçar as coisas como elas pareciam em sua cabeça. Estava tudo claro, foi trocado por outro, por isso o abandono. Só que algo estranho aconteceu. Quando o celular de Louise vibrou, o detetive correu seu olhar até a tela e viu a foto de um garoto. Foi como se tivesse visto uma foto dele mesmo quando era mais novo, claro, com algumas diferenças, mas a sensação tinha sido essa.

— Grávida? Olha aqui, Louise, eu não estou com saco para essas brincadeiras. Eu...

O tempo parou.

Shadow estava atônito. Demorou alguns poucos segundos, mas a razão tinha feito a raiva sucumbir e assim pôde pensar no que estava acontecendo, naquilo que aconteceu. Aquele rostinho na tela do celular e o que acabava de escutar dos lábios de Louise, essas peças se encaixavam perfeitamente. O coração do homem disparou e o chão sob seus pés pareceu desaparecer. Os olhos azuis ficaram ainda mais azuis ao serem banhados pelas lágrimas. Foi como se uma estátua começasse a chorar e aos poucos começasse a assumir expressões mais humanas.

— Eu tenho um filho. Um filho. — Precisou apoiar as mãos no capô de um carro. Precisou de alguns instantes para se situar e quando voltou a olhar para ela, foi tudo o que disse — Quero vê-lo. Quero conhecer meu filho, Louise. Qual nome deu a ele, como ele é, eu quero vê-lo agora mesmo.

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