[RP ABERTA/SEMI OFICIAL] Inauguração - Cassino Nirvana

#007

"Porra de carro." O advogado rugiu, espalmando a mão sobre a curva do volante do automóvel desligado e em seguida baixando-a sobre o câmbio. Voltou para o ponto morto, ligou o carro e repetiu pela milionésima vez. "Qual o problema daquela anta em comprar um carro automático?" questionou, furioso. Ele havia aprendido a dirigir aos dezesseis anos, como de praxe, mas desde que o encanto de garotão motorizado passara, nunca mais pegara na direção de um carro salvo para manter a carteira de habilitação ativa. Excepcionalmente algumas situações se mostravam necessárias, mas os carros a sua disposição eram sempre automáticos, o que facilitava em enormes proporções seu trabalho.

Trocou a marcha, acelerando o automóvel. O trânsito de táxis era intenso, mas felizmente havia brechas o suficiente para que seu percurso não fosse mais prejudicado pelo fluxo e seus erros, combinação de falta de prática e um espírito furioso, não o atrasasse. Não que estivesse atrasado, mas quando Chelsea havia telefonado, completamente bêbada, confundindo-o com Joe e propondo ofertas indecorosas para tê-lo de volta ele simplesmente precisava resgatar a prima. Ele que havia fornecido o ingresso vip em primeiro lugar. Não esperava que ela fosse decair para aquele estágio, mas devia. Ele conhecia Shelly há anos. Não era um filho que mudava as pessoas, pelo visto.

Quem o visse jamais suporia que era rico, proprietário e advogado principal de uma das maiores firmas de advocacia da Europa. Vestia calças de tecido na cor cinza, tênis, um gorro vermelho e o dorso envolto por um moletom preto, saindo de um Fiat Uno capenga amarelo mostarda. Para manter o mínimo de sua dignidade, ao menos os fotógrafos o ignoraram totalmente.

Ultrapassou os esperançosos que ainda esperavam alguma iluminação divina para entrar no Cassino lotado, Anthony se deparou com os olhares zombeteiros dos seguranças, ele não estava com paciência para isso. "Obviamente eu não queria estar aqui tanto quanto vocês não querem me ter aí dentro." resmungou, irritado, enquanto retirava o convite e os documentos de identidade do bolso canguru do agasalho. Confirmado a veracidade das informações – com uma boa dose de choque por parte dos funcionários – o advogado conseguiu entrar naquela personificação da Babilônia.

Viu-a antes de qualquer coisa. Os passos bambeantes no salto enquanto subia na mesa de apostas. "Merda." repetiu, novamente. Seguiu naquela direção. Sequer precisava desviar das pessoas, diante da ferocidade do seu olhar o mar se abria a sua frente. "Chelsea." chamou, a voz semelhante a um rosnado era inaudível na balbúrdia do ambiente, mas talvez pela insistência dos olhos azuis fincados em sua nuca, ela olhou e o reconhecimento voou pelos olhos azuis. Primeiro ela riu, faiscando em alegria infantil enquanto descia da mesa para o alívio dos funcionários, mas quando compreendeu que a raiva era dirigida para si, ficou confusa.

Anthony não forneceu explicações, sua mão envolveu o pulso da embriagada e pelo percurso, bastante curto, até a saída, arrastou-a, alheio a suas alegações. "Tu tá bêbada, tu tava a ponto de chamar aquele babaca do Kennedy pra casa de novo, caralho." explodiu, largando o pulso e enfrentando a expressão chorosa da prima. "Eu te dou um ingresso pra ti aproveitar uma noite de folga e deixar o Gael com a gente e tu enche a cara, porra. Não consegue nem andar sozinha. Tu quer que eu fique o que? Orgulhoso? Feliz? Porra, Chelsea, cresce!"

Insensível as lágrimas da garota, Anthony voltou a envolver o pulso da morena – com mais delicadeza, embora não menos insistência – e terminar o trajeto até a saída. Chelsea era parcialmente arrastada enquanto os próprios passos fraquejavam, mas o advogado era forte o suficiente para sustentá-la sem diminuir o ritmo. Ainda fervilhava em raiva quando ambos depararam-se com o ar gélido da noite de janeiro. O Oakheart permitiu-se respirar, aproveitando para soltar as mãos da prima e não provocar a falsa impressão que sequestrava alguém da boate, era a última coisa que precisava para a noite. "Consegui vaga na esquina de cima, vamos lá." explicou, retirando as penas que misteriosamente haviam se colado a seu exótico – surpreendentemente – moletom e seguiu adiante. Shelly acompanhava-o a poucos metros.

Quando entraram no carro, Anthony ligou o carro em silêncio. A médica tentou se explicar, alternando entre risinhos e choros, mas sabiamente o advogado fechou os ouvidos as lamúrias e desculpas da parente. Se houvesse preferido escutar à focar-se em sua raiva particular, sem dúvidas, teria abandonado-a no meio do caminho.

Thanks Vitória Paura @ ETVDF