[rp fechada] You can't sit with us!

Segundas-feiras vinham sendo os dias preferidos de Natasha, pois normalmente indicavam que ou a revista já estava nas bancas ou ainda não havia tanta pressa para que ela estivesse. E agora, em pleno começo do mês, a segunda-feira tinha um sabor ainda melhor, pois era o dia que a edição do mês chegava às bancas, fresquinha e perfeita, do jeito que Natasha gostava. Por tudo isso, pudera reservar em sua agenda um tempo confortável para ver Louise, sem que ficasse estressada por estar perdendo algo ou seu telefone tocando porque estavam todos ansiosos e não pareciam ser capazes de se virar se ela não os estivesse olhando. Era incrível como pessoas adultas voltavam a ser crianças pegajosas quando o prazo final para a edição do mês se aproximava. Não pareciam mais os profissionais competentes que ela contratara a dedo. Claro, o fato da Dragomir ser extremamente exigente e odiar desvios tinha algo de influência nesse comportamento, mas ainda assim, irritava a mulher.

Porém a revista estava perfeita, estava nas bancas e ela merecia um descanso e não poderia pedir melhor companhia para isso. Louise era sua amiga mais antiga e, se fosse realmente sincera, a única verdadeira. E a única que Natasha realmente se importava e interessava. Não era muito chegada a pessoas em geral, mas Louise tinha qualquer coisa de exceção em sua vida. Talvez por ser a pessoa que sempre estivera lá quando a loira estava mais frágil e por ter visto esses momentos quando a Dragomir não deixava que mais ninguém a visse vulnerável. E a recíproca era verdadeira, porque ainda que Natasha não fosse a única amiga de Louise, estivera com essa sempre, mesmo nos anos em que ela fora morar em Nova York, Natasha sempre achava um jeito de ir visitá-la e a Liam, seu filho.

Sendo assim, quando Louise falou que voltaria para Nashville, a diretora de redação ficou extasiada, pois finalmente teria os dois mais perto e poderia vê-los mais vezes. Era muito difícil ter de pegar um avião sempre que quisesse reclamar da incompetência alheia, coisa que Natasha queria fazer várias vezes numa semana. Mas agora, bastava pegar um carro e ir encontrar a amiga, tudo que a loira queria. Porém, ainda que Louise tivesse chegado três dias antes, com a correria de finalizar a edição, não haviam podido se encontrar ainda. Natasha havia passado os últimos três dias quase morando no escritório, perdera a festa do mês, mas não reclamava.

Havia marcado num café qualquer, Natasha não havia prestado atenção aquilo, realmente, mas seu motorista e sua assistente estavam sempre atentos aos seus compromissos e tão logo livrou-se do telefonema de um empresário de alguma estrela em ascensão, a Dragomir pôs-se a caminho, sabendo que chegaria atrasada. Odiava atrasos, mas infelizmente raramente chegava no horário para qualquer coisa, pois algum contratempo a atrasava de uma maneira ou de outra.

Quando o motorista estacionou, Natasha pegou sua bolsa e dispensou tanto ele como a assistente, pois queria ter a tarde apenas com Louise, sem incomodações de trabalho e deixou isso bem claro à Heather. Se qualquer pessoa quiser me achar, eb tvoju mat, porque eu não quero falar com ninguém, ouviu? Se meu telefone tocar e for teu número, nem precisa vir trabalhar amanhã! delicada como de costume, saiu batendo a porta, porém suavizou a expressão ao abrir a porta da cafeteria e ver Louise. - Sua pequena loh! - a xingava, mas seu tom era de puro carinho, enquanto envolvia a amiga num abraço. Se algum paparazzi fotografasse aquilo, Natasha já antevia as manchetes: "O demônio é capaz de afeto humano!", "Diretora de redação dá sinais de humanidade!" e mais outras coisas pouco elogiosas. Porém ela não ligava, Louise fazia parte do pequeno círculo que de fato a conhecia e ela não tinha vergonha de demonstrar carinho.

Deixou que a outra lhe levasse para a mesa e sentou-se, a encarando com a expressão séria, porém com um tom de desagrado que estava sempre ali, desde que Louise fugira de Nashville. Uma crítica silenciosa que ela já não proferia, pois o fizera vezes demais. Antes que pudesse dizer umas poucas e boas, a morena lhe soltou a pequena bomba no colo e a expressão de choque deveria ser visível no rosto bem maquiado de Natasha. - Blyad! - xingou. Sabia falar russo perfeitamente e tinha, às vezes, um forte sotaque, mas sempre que queria xingar (e isso acontecia muito) usava a língua materna, pois lhe parecia mais forte e adequado. E, sem dúvidas, um "fuck" não era suficiente para aquela situação. - Yoptel-mopsel, Louise. Pelo menos podia esperar que eu pedisse um café forte. - sua voz era baixa e um tanto chocada.

Anos escondendo o pequeno Liam e em três dias que havia voltado, já contara para o homem. - Fazem apenas três dias que vocês chegaram! O que aconteceu? - exigiu, não se importando de ser branda ou delicada. Se Louise esperava conforto e palavras doces, viera buscar na fonte errada, pois Natasha não tinha nada disso dentro de si. Antes que Louise pudesse falar, ela lhe fez um sinal com a mão para que esperasse e chamou algum atendente com cara de poucos amigos, isso sempre era eficiente e uma garçonete chegou em dois segundo. - Quero um café preto, forte e sem açúcar e qualquer bobagem que ela esteja tomando. - anunciou e voltou-se para Louise, deixando claro que a garçonete estava dispensada. - Pode falar. - exigiu, agora para a amiga, com a sobrancelha arqueada.

Natasha não era uma pessoa má, apenas não tinha grandes considerações pelas outras pessoas. Crescera com o mundo lhe fazendo as vontades e achava que tudo deveria ser assim. Sabia ser delicada e amável, mas em raras ocasiões. E aquela não era uma dessas. Passara anos dizendo à Louise que não era justo o que ela fazia com o policialzinho, não porque se importasse com ele, mas porque achava que aquilo a machucaria algum dia e Liam poderia se revoltar.

Os dedos de Natasha começaram a tamborilar na mesa e ela deu um sorriso de deboche quando a outra falou que havia se antecipado. Aquilo sim era amenizar as coisas. Seis malditos anos de boca fechada e simplesmente vomitara a informação. Fora uma ideia muito sábia escolher um local público para aquele encontro, porque se estivessem sozinhas, Natasha gritaria coisas nada agradáveis para a outra. Mas era uma cafeteria e o máximo que podia fazer era encará-la de cara feia e desaprovadora.

Revirou os olhos quando o sorriso idiota de quem estava apaixonada surgiu nos lábios de Louise. Havia passado anos fora e ainda gostava do policialzinho como se não houvesse passado um dia desde que o conhecera. Jamais entendera aquilo, pois nunca havia se apaixonado, não tinha ideia do que era sentir tal coisa, portanto a desprezava. Era ótima em desprezar as coisas, principalmente as que tinham a ver com sentimentos e emoções.

A festa no Bluebird, claro que conhecia, ia quase todos os anos, pois era lá que a maioria da ação acontecia. Mas infelizmente não havia ido naquele, pois estivera atolada com a incompetência de algumas pessoas. Ou o que ela considerava incompetência, pelo menos.

Pelos deuses, Louise estava completamente apaixonada por aquele idiota. Fora para Nova York e não o esquecera. Era demais pedir que Natasha, que esquecia seus casos no momento em que eles saíam de sua cama, entendesse tal fixação. Suspirou de frustração com as reações de uma colegial enamorada que a amiga apresentava. Quando a garçonete trouxe seu café, Natasha a agradeceu, automaticamente, pois ainda que fosse uma vaca, sempre tratava com educação aqueles que lhe serviam. Tomou um gole, ignorando a temperatura da bebida e agradecendo o amargo que descia por sua garganta.

- Ansioso para conhecer o filho, por favor. - debochou. Não conseguia evitar, tinha uma antipatia pelo homem, a quem sempre havia chamado de "aquele homenzinho desprezível" ou "policialzinho". Balançou a cabeça negativamente, não podendo acreditar naquilo. Louise passara seis malditos anos escondendo o garoto, evitando até a menção daquele nome, Shadow ou qualquer que fosse e agora, assim, sem mais, pensava em marcar encontro entre o pobre Liam e o policialzinho. - Blyad, Louise! Fala como se fosse algo corriqueiro. Como se as coisas fossem simples e não houvesse um abismo de anos entre vocês. Eu estou completamente decepcionada contigo. - esbravejou numa voz um pouco mais alta, que fez as pessoas das mesas mais próximas a encararem. Natasha lhes devolveu a encarada com mal humor e eles voltaram a encarar seus cafés.

Tomou mais alguns goles de seu café, enquanto se obrigava a se acalmar. Não era dada a arroubos de mal humor em locais públicos, mas Louise a havia levado aquilo. Passara todo esse tempo choramingando e reclamando, para resolver com tamanha facilidade? Aquilo não lhe descia de maneira simples, pois era consistente com suas raivas e, depois que decidia afastar-se ou odiar alguém, era para sempre. Sabia que talvez estivesse julgando Louise muito duramente, mas só sabia encarar as coisas por sua ótica pouco flexível.

Calou-se, encarando o estabelecimento, apreciando o café e ouvindo a mudança brusca de assunto. Agora ela se animava, enquanto Natasha seguia irritada e com vontade de sacudi-la. Louise tinha sorte que a Dragomir era completamente controlada. A loira voltou a encarar a amiga, com a expressão fechada, enquanto terminava o último gole de café. Repousou a xícara e arqueou uma sobrancelha. - Pelos deuses, Louise, tuas mudanças bruscas de humor me deixam completamente estarrecida. - comentou primeiro. - Não pense que nosso assunto sobre o policialzinho acabou ou que não vou levantá-lo sempre que tiver uma oportunidade. Ou que não discutiremos esse encontro. Mas claro, uma festa parece ótimo. - terminou, forçando um sorriso.

As pessoas falavam coisas sobre Natasha, que em sua maioria eram verdades, mas se soubesse a maldita manteiga derretida que se transformava quando estava com Louise, muita da reputação de dama de gelo dela iria por água baixo.

Sem o café para distraí-la, sua atenção estava completamente focada em Louise, analisando cada movimento, as nunces em seus tom de voz e qualquer indicativo do que ela não lhe dizia. Sua mãe dizia que os Dragomir, há milhares de anos, tinham algo de magia e que não haviam perdido completamente, tendo um sentido muito apurado para decifrar emoções alheias. Cética como era, Natasha ria daquelas bobagens da mulher, mas não negava que tinha um sexto sentido para ler as pessoas. Obviamente que ele não era necessário quando se tratava de Louise, a conhecia há tempo de mais para não ser capaz de entender suas emoções.

- Tu nunca esqueceu ele, Louise. E nós duas sabemos que uma possível volta entre vocês é só questão de tempo e de deixar a teimosia de lado. - comentou, em tom mais ameno. O agito do final de semana estava começando a cobrar-lhe o preço e ela começava a sentir-se cansada, até mesmo para brigar com a amiga. Dormira umas quatro horas no total, desde quinta e, não fosse a maquiagem bem feita, pareceria péssima. Mas era uma mulher de poses e não gostava que ninguém a visse menos que perfeita.

Quando Louise falou que não queria pensar em nada, Natasha deu um sorriso debochado. - Tua especialidade, não? - comentou com veneno, depois sorriu com doçura. Revirou os olhos quando ela voltou a falar da festa. A Mackenzie tinha uma fixação por aquela data estúpida que Natasha jamais pudera entender. Pessoas fantasiadas, doces e coisas laranjas. Uh, só de pensar naquilo ela já sentia calafrios. Obviamente não gostava de nenhuma data comemorativa, mas o Halloween era a que menos gostava. Por sorte sua infância havia sido na Rússia e jamais tivera de pedir um doce, sentia que sua dignidade não suportaria tal suplício. Lembrava-se do Halloween, dois anos atrás, quando Louise a obrigara a se fantasiar e ir com ela levar Liam para o ritual humilhante. A experiência fora terrível e ela só havia ido até o fim por causa do garotinho, que sorria como se estivesse tendo o melhor dia de sua vida. E ainda diziam que ela não tinha coração...

Sorriu quando a amiga falou do entusiasmo do filho, lembrando-se dos sorrisos que tivera a sorte de compartilhar com ele. Às vezes, quando estava com a criança, pensava que ter filhos não era algo tão terrível assim e que talvez ela gostasse. - Estou louca de saudades dele. - admitiu em voz baixa. Mesmo que fosse Louise à sua frente, sentia-se estranha admitindo coisas emotivas como aquela. - Se quiser, posso emprestar a minha para o que for necessário. Heather é meio desligada, mas tem uma paixão por festas que me faz duvidar de sua contratação. - ofereceu, com delicadeza.

Encarou a xícara por um momento e levantou os olhos quando Louise a encarava de maneira estranha, estreitou os olhos, em espera. E depois os revirou. - Deuses, Louise. - exclamou. Depois riu um pouco. - Na verdade, ontem a noite, depois de terminar a edição. - respondeu, como se estivesse falando do tempo. A vida sentimental de Natasha poderia ser completamente nula, mas sua vida sexual era extremamente ativa. Tinha fama de dormir com os artistas que ajudava a lançar, nunca confirmada, mas era verdade completa. Um terapeuta que tivera uma vez havia dito que ela usava o sexo para compensar a falta de apego emocional, obviamente ela o havia dispensado.

- Se houver algum homem forte o suficiente para tal tarefa, poderia pensar no assunto. - foi a resposta. As pessoas enganavam-se pensando que ela não tinha ideia de como era, mas ela estava completamente ciente e não estava nem aí. Era uma mulher forte, independente e que sabia o que queria. O resto pouco lhe interessava. - Por que tu e o Liam estão num hotel e não em minha casa? É confortável e tem espaço o suficiente. - anunciou, totalmente brusca, mudando o assunto.

Ao ouvir o nome da prima de Louise, Natasha fez uma pequena careta. A encontrara apenas uma vez e fora demais para sua vida inteira. A garota era... Intensa, se Natasha fosse descrevê-la de maneira amena e completamente irritante, se fosse ser sincera. Talvez fosse melhor que ficassem em um hotel realmente. - Bom, sabe que precisando, minha casa está a disposição. - reforçou, satisfeita que Louise estivesse procurando uma casa. Viver em hotel era bons por uns dias, depois passava a ser cansativo.

Estava gostando daquilo, de ter um momento calmo, apenas conversando com uma boa amiga. Adorava o trabalho e a agitação, porém também gostava de ter uma folga, um momento para descansar a cabeça e se distrair. E quando Louise questionou sobre seu foco, ela sorriu por um momento. - É porque quando trabalho, esqueço do resto do mundo e da minha vida. Me sinto em paz com a cabeça cheia. - respondeu um tanto misteriosamente, mas tendo certeza que Louise entenderia e leria as entrelinhas. Havia segredos demais na vida de Natasha e ela vivia fugindo deles. Também por causa deles construíra a revista e sua carreira, para enterrá-los tão fundo, que eles jamais a alcançariam novamente.

Revirou os olhos para a "sugestão" de Louise, sabendo que nem valia a pena discordar, pois era tão ou mais teimosa que Natasha e se dizia que iam para o shopping, logo elas estariam lá. - Se eu algum dia encontrar o amor da minha vida num shopping, tu, por favor, me interna, porque eu fiquei completamente louca. - disse, numa rara demonstração de humor. Estava pegando sua bolsa para seguir a amiga, quando Heather, sua assistente, entrou no café e foi direto à ela. O olhar que Natasha lançou a garota faria até a pessoa mais corajosa recuar, mas Heather era um tanto desligada e estava resoluta em sua missão de contatar a chefe. Um dos patrocinadores da revista exigia uma reunião com ela, pois um dos protegidos de Natasha havia falado alguma merda numa entrevista e a Dragomir tinha de resolver aquela bagunça já ou o patrocinador deixaria a revista.

Bufando como um verdadeiro dragão, Natasha desculpou-se com Louise, mas explicou que não tinha como não ir resolver aquela crise. Era sua estrela da vez e um de seus maiores patrocinadores, não podia deixar que terceiros resolvessem aquilo, senão sua fama de dama de ferro poderia ruir. - Por favor, Lou, me perdoe, mas apenas eu posso resolver isso. Foi ótimo esse encontro hoje e espero sair para beber contigo assim que possível. E não esqueci e nem vou esquecer a bobagem com o policialzinho. Dê beijos no Liam. - foi falando, dando um beijo no rosto da amiga e indo em direção a porta, já começando a infernizar a vida da pobre Heather.