O primeiro dia de aula havia sido completamente diferente do que eu imaginei, e isso era animador. Não foi chato e solitário, muito pelo contrário, todos foram muito gentis e receptivos comigo. Consegui fazer vários amigos sem muita dificuldade, e a mais legal de todos com certeza era Leslie. Ela me viu desenhando com giz de cera no meu caderno durante a aula de artes e se aproximou sem vergonha nenhuma, já puxando assunto e elogiando meu desenho. Me senti um ótimo artista naquele momento, e quando ela me mostrou o dela vi que era bem engraçado. Pelo que ela me explicou era uma versão mais bonita do "Sr. Nariz de coxinha", o professor de matemática que ele dizia ser a pessoa mais chata e ranzinza do mundo. Me deu até certo receio se conhecê-lo.

No intervalo dividi com Leslie o pedaço de bolo que a Sra. Marie havia colocado na minha lancheira, e depois ela me mostrou a escola. Era de fato um lugar enorme, cheio de salas, com uma quadra de jogos bem maior do que a da minha antiga escola e alguns bancos organizados ao lado de algumas das árvores que haviam por lá. Deveria ser divertido brincar de pique-esconde ou pega-pega em um lugar como aquele. Depois do intervalo tive o desprazer de conhecer o professor anteriormente retratado por minha amiga, e ela aparentemente tinha razão em todos os aspectos - inclusive o nariz. O apelido era de fato muito apropriado.

O fim do período foi indicado pelo estridente sinal que ecoava por todo lado, fazendo todos arrumarem suas malas com pressa e praticamente saírem correndo da sala como se aquele fosse um alarme de incêndio. Eu estava pronto para fazer o mesmo já que Leslie me propôs uma corrida até os portões de entrada e saída, mas o diretor Flinch me impediu. Como se adivinhasse que eu sairia naquele momento, o homem de cabelos grisalhos apareceu e me convidou a acompanhá-lo até os portões, pois queria conversar comigo. Meio desanimado, me despedi brevemente da animada garota de cabelos loiros e aceitei o convite do homem, que me acompanhou calmamente pelo pátio do colégio. Durante o percurso ele me perguntou o que eu tinha achado da escola, se havia gostado das aulas, se me dei bem com os professores, se os alunos foram receptivos e coisas do tipo. Respondi quase tudo com cem por cento de sinceridade, com exceção da parte que disse que "os professores são legais", pois o Sr. Nariz de cozinha não era.

Ao chegar na entrada do colégio logo vi meu pai de mãos dadas com uma linda moça de cabelos loiros como os de Leslie, a qual eu já havia visto algumas fotos no celular dele e ouvido muito a respeito. — Paaaai! — Praticamente corri ao seu encontro e o abracei bem forte quando ele se abaixou para ficar da minha altura, tendo um alegre sorriso no rosto. Estava animado por meu dia ter sido muito divertido, e sequer tentava esconder aquilo. Nos desvencilhamos e ele começou a conversar com o Sr. Flinch, enquanto eu não tirava os olhos da moça que o acompanhava. Ela era ainda mais bonita pessoalmente do que nas fotos, e lembrando do meu primeiro pensamento quando soube de seu nome acabei imaginando como ela ficaria com um longe vestido cor-de-rosa e uma coroa na cabeça. Não parecia ser muito o seu estilo, mas ninguém poderia negar que ficaria bela como uma princesa de verdade.

O homem de cabelos grisalhos não se prolongou muito na conversa e se despediu de cada um de nós, fazendo com que eu apenas proferisse um educado "Até amanhã, senhor Flintch." antes de vê-lo retornar para dentro da escola. Voltei a fitar meu pai, que não demorava a apresentar "sua marrentinha" para mim e vice-versa. — Hmmm... Oi. — Esbocei um sincero e simpático sorriso para Aurora, ainda com a euforia de ter tido uma ótima manhã. — Muito prazer, Rory. Você é ainda mais bonita do que nas fotos que o papai tem no celular. — Falei de maneira serena e descontraída, me aproximando dela antes de abrir os braços como se esperasse que ela se abaixasse para poder abraçá-la.