[RP FECHADA] Anyway You Want It

— Porra, quanta gente incompetente nessa porra dessa casa — Gritava como um louco sem resposta, as camareiras haviam arrumado todas as minhas roupas e coisas, sinal que com certeza não encontraria minha gravata preferida, droga eu com certeza estava de mal humor num dia em que não conseguia encontrar nada do que eu mais queria. Caminhei até o enorme espelho no quarto, as roupas eram um pouco diferentes do habitual já que não conseguia achar as mais formais, um jeans escuro, botas muito parecidas com as botas de combate que usei em um outro tempo e uma camisa quadriculada, mesclando tons de cinza e vermelho.

Precisava encontrar com aquela pessoa, mas os locais que ele marcava eram sempre os mais inusitados possíveis, um velhote que já era cliente a algum tempo, chegava a ser o mais próximo de um amigo que eu teria naquela cidade minúscula, pelo menos era bom pensar dessa forma, ter amigos nos lugares em que eu ia era sempre uma espécie de loteria, poderia ser algo muito bom, ou algo bem ruim, roleta russa? Era uma boa denominação pra o que podia acontecer.

O taxi me levou ao local que ele havia me indicado, mas eu ainda não conseguia acreditar naquilo, o cara realmente havia marcado uma reunião naquele lugar? Não que eu não apreciasse aquilo, mas definitivamente não era o melhor lugar para falar de negócios como os nossos, principalmente se pensássemos no que poderia e costumava acontecer naquele tipo de estabelecimento.

Era fácil identificar os tipos de pessoas ali, jovens bem mais altos do que deveriam estar, velhos mais tarados do que deveriam ser, e uma reunião de cretinos decrépitos por onde quer que suas vistas pudessem alcançar, definitivamente não era os meus lugares preferidos no mundo, mas naquela hora eu era apenas um garoto de recado, então o que eu tivesse que pensar não se tornava a coisas mais interessante do mundo para quem assinava os cheques.

Não demorou muito para que aquele velho porco gordo me encontrasse, seguranças particulares? Ele tinha alguns, era fácil identificar homens a paisana observando cada passo de qualquer um que se aproximasse dele, eu não posso mentir que não faria a mesma coisa se fosse ele, minha reputação para as poucas pessoas que a conheciam de verdade era uma coisa a ser no mínimo respeitada.

Ele aguardava com uma serie de papeis cheios de novos pedidos, a criptografia era engraçada, ele combinava as armas com tipos de carnes bovinas, era muito engraçado de observar a forma que ele deu de nunca ser descoberto. Não era como se fosse fácil arranjar as coisas que ele queria, mas era um lucro bacana e valia a pena fazer aquilo enquanto eu procurava o meu real trabalho naquele lugar, mas certamente não era em ambientes como aquele que encontraria a criança que me mandaram procurar, o que não fazia com que o lugar fosse menos divertido, me peguei até mesmo completamente hipnotizado por uma dança, a moça de fato não era só bonita, a suavidade da dança, o corpo bem definido, a provocação  moderada, aquilo era realmente digno de atrair atenção. Se quer se parecia com as mulheres que eu costumava ver naqueles ambientes, por mais caros que fossem.

Mas minha hipnose foi cortada pelos gritos de Youri, como um velho porco gordo que ele era não demorou pra perceber a minha cobiça, era pratica daquele tipo de cara tentar agradar as pessoas com quem negociava, então era essa sua tentativa de me ganhar, uma mocinha que havia chamado minha atenção mais do que eu gostaria de admitir, mas não era suficiente e ele precisava saber disso.

Mantive os olhos na garota que se aproximava, era realmente bonita e isso eu não podia negar, talvez não custasse nada misturar um pouco de trabalho e diversão, mesmo que isso não fosse o meu primeiro objetivo, sorri para a garota, sua expressão era como a de todas as outras, ela de fato não queria fazer aquilo. Dei uma gargalhada para o velhote e seu amigo, babando pela garota, mas o instinto em mim falava mais alto — Os dois velhos babões obrigaram um outro velho idiota a te trazer pra eles, parece que eles só conseguem sexo se pagarem por isso, o que é normal se prestarmos atenção no quão nojentos eles são. O sorriso de satisfação “dançava” em meu rosto ao perceber que os dois homens estavam rubros de tanto ódio, o sangue de fato havia lhes subido a cabeça.

Levantei nas pontas dos calcanhares, olhando de um lado para o outro e contando em baixo tom “três, quatro, devem ser seis se não perdi ninguém”, precisava decorar o posicionamento de cada um dos caras a paisana para o caso de as coisas esquentarem, mas voltei com o sorriso na face e bati no ombro dos dois — Sobre os negócios cavalheiros, a minha resposta é: não. E vocês devem imaginar o que acontece quando a resposta é não, certo? Acho que a resposta dela também é não, estou certo garota?

Uma coisa que deu pra perceber rápido, era que a garota era boa em resolver as situações em que se metia, ou nesse caso em especifico a encrenca em que eu tinha metido ela. Mas era legal ver ela tentar resolver aquilo, caras armados, bêbados e agressivos, será que ela estava mesmo acostumada a lida com aquilo? Era algumas coisas que me deixavam um pouco curioso, embora estive pronto para sacar a Magnum 44 que escondia, resolvi deixar por conta dela.

As loiras que ela havia chamado eram com toda a certeza a cara daqueles caras, falsas, estranhas e desinteressantes, não pude deixar de desfazer o sorriso quando tudo se resolveu sem nenhum pouco de violência, aquilo com toda certeza tirava um pouco da graça das coisas, eu preferia resolver aquilo ao meu modo, mas num instante de lucidez eu me recordei de que não podia fazer esse tipo de coisas naquela cidade enquanto não encontrasse a criança.

Sentei no sofá meio emburrado ao ver os caras saindo em direção a seja lá o que fosse que eles buscassem, a garota para mim parecia se sentir bastante vitoriosa com a situação, o que de certa forma me incomodava um pouco, fiz um bico com a pergunta dela e dei de ombros — Pode beber tudo que quiser, é por minha conta — recostei a cabeça no sofá e joguei os pés sobre uma pequena mesa a frente, onde estavam algumas garrafas deixadas pelos velhotes — Mas na verdade ninguém me interessa, não me leve a mal, respeito as pessoas que vivem disso... Mas não sinto tesão em foder alguém que não quer ser fodida por mim.

Dei de ombros sinalizando que o garçom trouxesse o que ela pedia e continuei ali encostado, observando a moça que dançava agora — Essa é bem sem graça, são todas assim? Peitos falsos e bundas falsas? — olhava para a garota atentamente, esquecendo a que dançava agora, a jovem era a única que tinha a capacidade de prender um pouco a minha atenção, por quanto tempo? Isso dependeria mais dela do que de mim.

— Então me diga, o que mais você sabe além de que os dois porquinhos gostam de transar juntos? —Peguei alguns amendoins que estavam por ali, atirando um pra cima e aparando com a boca aberta, mastigando e dando uma risada antes de voltar a olhar pra ela — Por quê nenhuma dessas garotas fúteis teria coragem de enfrentar dois velhos ricos... Menos ainda ficaria encarando as armas deles e não correria gritando... Você é esperta de mais pra esse lugar, fora ser a única pessoa realmente sexy aqui, fora eu mesmo.

Ofereci os amendoins pra ela enquanto o rapaz trazia a bebida que ela pediu momentos atrás — Apesar disso, eu poderia resolver a situação, mas confesso que gostei do seu jeito — a outra garota parecia desesperadamente chamar a atenção de um outro cara e eu não pude conter a gargalhada, virando para a garota que agora me fazia companhia — É serio, esse lugar não te merece. Tá meio caído por aqui, acabou de começar ou terminar o dia?

— Você parece não ter me entendido muito bem — suspirei encarando a garota, só pra confirmar que diferente da maioria das que trabalhavam com aquele tipo de coisa, ela não estava nem ai pra minha opinião, ou de qualquer homem. Não deu pra evitar a risadinha debochada — Não falo como se elas não tivessem escolha. Mas, elas precisam ganhar dinheiro deles não é? Os deuses nos deram poucos prazeres na vida, fazer uma mulher chegar ao êxtase de seu prazer é uma delas, não vejo a mesma graça de fazer isso com alguém que finge.

As palavras dela pareciam duras, levei a mão ao queixo enquanto a encarava, de fato aquilo poderia me fazer refletir um pouco sobre as coisas que falei antes, será que eu tinha ofendido ela? Era uma coisa que eu devia pensar, talvez fosse a hora de aprender a filtrar o que falava, mas pela postura da garota eu só conseguia me convencer do contrario, ela não parecia ser o tipo de pessoa que estava de fato preocupada com as baboseiras que eu falava, eu tinha quase certeza que ela estava apenas tentando me atingir, por isso aquele sorriso sacana continuava teimando em estar na minha cara, joguei mais um amendoim na boca  e mantive aquele jogo.

— Na verdade nem é que eu me ache, é que realmente eu consegui satisfazer todas as mulheres que tive, se é que me entende?!?! Quando não tem um desafio envolvido, não me interessa muito — uma gargalhada alta pôde ser ouvida quando ela falou sobre si mesma, talvez eu estivesse provocando? Ela teria que descobrir por conta própria — Na verdade você é bem bonitinha.

Parei para pensar no que ela estava dizendo, e dessa vez ela estava muito certa, como eu esperava resolver aquilo? Eu certamente sabia que podia me safar, mas isso podia entregar a minha identidade com grande facilidade e isso era definitivamente uma coisa que eu não podia fazer, por um instante pensei em como explicaria aquilo sem comprometer de alguma forma, não que a garota de um clube de strip fosse acreditar ou mesmo comprometer a minha historia. Olhei direto pro palco novamente.

— Você pode duvidar disso, mas esses caras não fariam nada comigo, sabem que é burrice. Ou você costuma ver eles com tantos seguranças cercando eles? — disse apontando pra alguns dos caras a paisana que não sabiam esconder o fato de estarem armados — Eu só não queria que aqueles porcos botassem as mãos sujas deles em você, tava na cara que alguém te obrigou a vir aqui, aliás, tente beber a tequila sem que ninguém veja na próxima, ok? Se eu precisasse atirar neles? Eu atiraria. Já atirei em pessoas antes, dei um golpe de faca num cliente que estuprou uma criança. Já atirei em um mendigo que jogou uma pedra em mim. Já atirei em um bandido que ameaçou o escritório. Aqui nós agimos assim, como americanos, gostamos da terra, queremos uma casa segura, poder guardar nosso dinheiro e atirar em quem não presta.

Voltei a mastigar aqueles amendoins e a encarar ela, surpreendentemente aquilo talvez não a assustasse, não como eu esperava que fosse, o que me deixava bastante curioso a respeito dela, enquanto mastigava os amendoins pensava no que responder sobre sua ultima questão, mas era complicado explicar, então apenas continuei fazendo cara de bobo com aquele sorriso provocante na cara.

— Quem falou pra você que você tem minha atenção? Eu só queria irritar Youri, é uma espécie de jogo também, sempre que ele fica bravo, é por que ele sabe que tem de me pagar muito mais do que está oferecendo. E veja bem, você também me deu sua atenção, digamos que nós trocamos favores, você evitou que eu machucasse o Youri, sei lá. Essa seria a primeira vez que atirei em um ser humano. Um ser humano de verdade. Os outros eram criminosos ou um mendigo. Youri, o “russo” é real. Paga impostos, vive, respira, é republicano. Então você me livrou de um problema.

Me levantei, puxando a carteira do bolso e sacando uma nota de 100 de dentro dela e jogando sobre a mesa, junto com o que eu esperava que fosse uma comanda — Bem, eu não queria falar mau das suas amigas, ou sei lá. É só que esse não é o meu tipo de lugar, preferia estar em uma infinidade de lugares que posso citar. Mas façamos o seguinte, você me livrou de uma boa ali, então eu posso te levar pra comer, você deve estar cansada depois daquilo, ou posso caminhar com você até sua casa, não queremos que outros velhos porcos tentem mexer com você não é? Embora algo me diga que você se defenderia perfeitamente, deve ser algo entre a postura arrogante e a língua afiada. Eu definitivamente gostei de você, e isso é mais do que todas as outras pessoas dessa cidade podem dizer.