[RP FECHADA] The Sound of Music

Phoebe puxou o lençol de seda, recobrindo o corpo desnudo. Não tinha o hábito de fumar, mas se não zelasse tanto pela própria voz, estaria colocando um cigarro entre os lábios naquele instante. O homem espalhava-se na cama, satisfeito e embrulhado num emaranhado de seda branca cintilante. Puro luxo.  

— Você sabe que isso não vai mudar muita coisa, não sabe?

O sexo era bom. Bom demais para uma jovem artista em ascensão pelas mãos do imponente Leon Russel. O cara logo atrás dela. Conhecia a fama do devastador empresário e renomado dono da gravadora que havia alavancado sua carreira. Sabia das inúmeras mulheres que já haviam sido levadas para aquela mesma cama, e diferente de todas as que estiveram ali um dia, não se importava.

— Eu quero resultados, caso contrário, irá ter um bacanal ao seu dispor nesta cama. E eu não estarei nele. — aquilo parecia não surtir tanto efeito, visto pelo ponto onde ele era o grande magnata por trás das cordas dos fantoches e ela, apenas mais um foguete que o levaria para mais alguns degraus avante na escala de riqueza e influência. — Está perdendo o ritmo, Russel?

Phoebe Jekinson. Sua fama era exatamente em cima daquilo que haviam moldado. Com toda a história de mais uma grande artista sendo jogada em reabilitação, tivera seu espaço para erguer as barreiras do sucesso ao seu redor. E fez a praça. Simpatia era a grande aposta, mais um rostinho bonito de voz aveludada que vinha para derreter os corações. E deu certo. Mas aquilo não tinha muito a ver com sua real personalidade. A ousadia brilhou no par de olhos cristalinos, que esboçou um sorrisinho forçado, desafiando a imagem de sua autoridade.


— Mais que diabos?! — esbravejou, chacoalhando a mão no ar para espantar o odor. — Odeio cigarros, apesar de querer um ou outro em alguns momentos, mas ainda sim! Odeio cigarros! — praticamente esmurrou a porta, dando de cara com Wyatt Beasley. O compositor tinha sua redundância na pista, o que lhe dava certos méritos, o que se adicionava como mais uma das coisas que não importavam para Phoebe. — É você quem vai me ajudar com o CD novo?

A chave do Porsche escapou para a mesa amadeirada ao canto, que funcionava como uma escrivaninha. A jaqueta esquentava seu corpo, mas não era tão desagradável, visto que o ar condicionado disputava acirradamente com os trinta e cinco graus que fazia lá fora. Podia sentir o odor da fumaça pairar fraco ali dentro, sinalizando a origem do fumante. Arqueou a sobrancelha, uma expressão de desgosto habitando o rosto delicado de traços angelicais que escondiam a verdadeira face do demônio.

Phoebe não era uma completa rabugenta. Tinha seus dias de um temperamento indiscutível, como se estivesse numa TPM contínua, como também existiam os dias em que tudo era literalmente um mar de rosas. O controlador disso tudo? Leonel Russel. — Hm, desculpe o mal humor, estou com uma dor de cabeça terrível hoje. — não era do tipo que se desculpava, mas precisava ser mais afetiva com as pessoas ao seu redor. Era um treino para quando tinha de fazer aparições públicas e prestigiar o povo com uma simpatia que não lhe era original.

Passou pelo caminho que ele havia indicado, puxando uma respiração profunda. Não tinha a mínima ideia de como iria compor, nem fazia questão de ter algum aprendizado a respeito, visto que só tinha que decorar as estrofes e sibilar cada uma delas na hora da gravação. — Wyatt Beasley, certo? Soube que você é um dos melhores. — não sabia como continuar um assunto, ou se quer começar um. Não estavam ali para jogar conversa fora, aliás. — Disseram a você que ao contrário da sua fama, a minha é exatamente o contrário? — a sinceridade bateu, e aquele sim era um lado dela que poderia dizer que era verdadeiro.

Phoebe se aproximou de uma máquina de café, apertando o botão para que o líquido negro caísse no copo já depositado abaixo da circunferência onde a bebida cairia. — Não sei se isso é algum tipo de distúrbio ou simplesmente não consigo, mas quando tento compor.... — suspirou, vendo as gotas negras caírem no branco leitoso do copo e encobrirem o fundo. — Tudo o que sai é ruim demais para ser considerado música. — inclinou a cabeça um pouco para a esquerda, apertando o botão da máquina com mais força. Não conseguia se concentrar o bastante ou quando achava que havia conseguido escrever alguma coisa, um defeito grave sempre era apontado. E ela? Bem. Era difícil de engolir uma crítica.

A loira permaneceu no lugar, recostando-se somente numa pequena escrivaninha intocada a muito tempo. Já havia estado ali antes, presa por longas quarenta e oito horas de puro pânico. Havia conseguido destrinchar algumas linhas num pequeno rabisco no caderninho que usava para resguardar os poucos versos que costumava tentar escrever. Nada valioso. — Certo. — sua expressão lembrava um pouco a que costumava demonstrar nos palcos que pisava; concentrada, um pequeno traço de simpatia e o ar de quem sabia o que estava fazendo. Phoebe não era uma fraude, não quando o assunto era cantar.

Não entendeu de certo o que cantar uma música já lançada tinha com o que ajudar no processo, mas não discutiu ou fez mais do que o pedido por ele. Ao contrário do outro compositor que sempre aparecia bêbado demais para lembrá-la de que tinha um CD a compor, Wyatt parecia mesmo disposto a ajudá-la. Reconhecer os acordes de Love me like you mean it havia sido um pequeno constrangimento - apesar de não ter demonstrado - já que havia sido uma das poucas músicas do álbum que tinha realmente escrito algo.


Por um momento, fechou os olhos e deixou-se levar pela letra que sabia de cor. A voz acompanhou a melodia criada pelo violão, e automaticamente Phoebe sentiu-se presa pela mágica da música. O "Oh, hey" saíra tão mais puxado quanto o original, evidenciando a legitimidade daquela letra. Seguiu pelo "Boy with your hat back" enquanto vislumbrava mentalmente a situação tratada na história que contava com aquele pequeno pedaço. Um pequeno gemido fora solto antes do "I kinda like that" fazendo com que a cantora esboçasse um sorrisinho. "If you wanna walk my way" seguiu, puxando também o "way" como fazia no single.


Aquela estrofe em particular lhe trazia lembranças de Leon, o que a fizera cantar com um certo gosto dobrado pela primeira parte. "I don't have time to waste on the boys that are playing the games and leaving the girls crying out in the rain" tinha um gosto particular pela mulher, que cantou quase como se estivesse sentindo os acordes de seu próprio violão entre os dedos e a presença de Wyatt fosse somente fantasmagórica. O "So tell me, baby" deixou de ser cantado para ser falado de uma maneira peculiar somente dela, inocente e com um "quê" de ousadia que Phoebe sabia muito bem impor.


Quando partiu para o refrão, exerceu força no tom sem o mínimo esforço. Era uma parte mais alta, e não se moveu tanto, o que contradizia sua vontade. Chegou a colocar a ponta dos dedos em volta do coração, como se formasse uma bola ao redor dele, sem encostá-los realmente em si mesma enquanto cantava o "If you're gonna hold me, hold me like i'm leaving" e continuou pelo "if you're gonna kiss me, kiss me like you need it" como se exigisse de Wyatt o que aquelas palavras queriam dizer. Ela podia ir muito mal quando o assunto era compor, mas quando tratava-se de um momento em que tinha de cantar, dificilmente encontrariam alguém tão honesto, quase como se fosse realmente a dona das palavras por trás de cada canção.


Deixou que a frase morresse, adiantando todo o restante da música, levando-a diretamente para o final. O tom doce encontrava-se marcante em suas palavras, bem quando cantava o "If you're gonna love me, love me, love me" estendendo o último um pouco mais, até finalizar com o "Like you mean it" como quem simplesmente falava. Como quem deixava claro o que queria. Nesta parte, os olhos percorreram o caminho entre ela e o compositor que tocava tranquilamente a melodia, um brilho incomum nos olhos claros da cantora de Country Pop a quem nunca mostrava-se tão deliberadamente confortável em estar cantando fora de um palco.

No mais, apenas aguardou pelo próximo lote de palavras que o levaria a seguir com o momento em que os levariam até quando deveriam começar a compor. Phoebe não era alienada. Era inteligente até demais. Diferente das outras que circulavam pela gravadora, era estudada e esforçava-se para aprender rápido, mesmo não parecendo. Seu grande veneno chama-se Leon Russel, que levava-a para um lado que muitos artistas não mais conseguiam encontrar o caminho de volta. Ele lhe sugava muitas coisas, mas não imaginava que o interesse da loira encontrava-se somente no sucesso que o magnata poderia lhe proporcionar ao firmar o contrato por mais algum tempo.

Ela era boa. Só não sabia disso. E a culpa estava longe de ser inteiramente dela.

Algo na expressão do compositor deixou a cantora animada. Phoebe raramente se sentia daquela forma quando tinha de cumprir o seu trabalho junto de alguém que mantinha a mesma posição de Wyatt. O homem era bonito, não que fizesse alguma diferença para ela, mas demonstrava um pouco mais de jogo de cintura do que os compositores com quem havia trabalhado antes dele. Aquilo sim era um peso considerável. Sem contar as tentativas fraudulentas de prenderem-na dentro de uma micro sala para forçar a saída de algum rabisco que pudesse ser usado, precisava lidar com Leon logo em seguida.

Apenas acompanhou o que ele repassava, a expressão tão concentrada implicava até mesmo certa simpatia ao rosto de Phoebe, que parecia não ver um empecilho para exercer algum trabalho. — Vou tentar. Só tenha paciência, não sei quanto tempo pode levar. — e aquilo era realmente uma verdade. Wyatt poderia passar um dia, virar a noite, apenas Deus sabia o quanto ele esperaria por alguma coisa partindo da loira. Pigarreou, afastando alguns fios dourados para trás da orelha e uniu as mãos frente o quadril. Ao respirar profundamente, deixou que os pensamentos se alinhassem para um espaço onde não teriam tanta atenção de modo disperso. Era como se concentrava, e enquanto isso, Wyatt dedilhava as notas e recebia o silêncio em troca.

— ...we wrote our own history... — começou, baixinho, o rosto inclinado para a esquerda para ouvir melhor a melodia e acabou batendo exatamente com pequenos fragmentos que já havia escrito há algum tempo, quase como se o compositor tivesse tido acesso ao caderninho que usava para anotar o que vez ou outra costumava escrever.


Ela conseguiu impor um pequeno pedaço, juntando frases que já havia anotado e que encaixavam-se num único verso. Apesar de não demonstrar, Phoebe estava surpresa. Jamais havia conseguido se mostrar tão eficiente, acompanhando a melodia - apesar de ainda demorar quase dez minutos para começar a cantar - e cantar algo de sua própria autoria. — Okay. Isso foi bom? — a animação estava evidente, tanto, que tinha se aproximado um pouco do compositor sem nem mesmo perceber.