[rp fechada] trouble in paradise

Eu me sentia um domador de leões — com a única diferença de que Josephine era pior.

Quando minhas mãos seguraram o corpo da mulher em prol de impedi-la de sair, senti uma dor aguda tomar a minha palma, fazendo com que eu recuasse apenas para sentir a mesma dor atingir o meu rosto, perigosamente perto do meu olho direito.

Soltei um grunhido de dor e levei a mão até o ferimento instintivamente, me surpreendendo com a quantidade de sangue que vi brilhar ali.

Arregalei os olhos na mais pura surpresa, completamente em choque pelo fato de que: sim, ela havia me cortado com o vidro; e mais do que isso — havia quase me cegado.

Senti o ódio me tomar e queimar dentro do meu corpo, mas graças a Deus Josephine foi mais rápido ao escapar. Cheguei a caminhar alguns passos em direção à porta, mas quando me dei conta de que ela já havia conseguido descer ao térreo do prédio à tempo, apenas ouvi o soar do motor e o cantar de pneus que sabia muito bem pertencer à minha Mercedez.

Fechei os olhos e respirei fundo, me perguntando como eu poderia estar surpreso por ela ter escolhido logo o meu carro preferido.

Girei sobre os meus calcanhares e observei o número de objetos quebrados dentro de casa. O interfone tocava, e eu sabia que era o porteiro preocupado, alarmado com as reclamações dos vizinhos. Morty, nosso cachorro, nos observava da cozinha com as orelhas baixas, seus olhos quase mareados em minha direção. O chão estava borrado por algumas gotas de sangue e a porta estava entreaberta, deixada exatamente como Josephine a largou.

Caminhei em silêncio em direção ao luxuoso bar e saquei uma das garrafas mais velhas de Bourbon, já aberta. Arranquei a tampa com os dentes e levei o gargalo até a minha boca, sentindo o líquido queimar conforme traçava seu caminho por minha garganta, até o estômago.

Soltei um suspiro e caminhei em passos lentos na direção do sofá, sacando meu notebook sobre a mesa e pousando-o sobre o meu colo. Meu rosto ensanguentado era apenas iluminado pela luz que entrava pelas enormes janelas da sala e pela que vinha do monitor; meus dedos batendo contra as teclas, produzindo um texto que logo ganhava a mesma tonalidade avermelhada dos meus machucados ainda recentes.

Eu era casado com uma mulher louca.

Talvez eu não fosse mais.

Mas, porra. Pelo menos aquilo daria uma boa história.