[rp fechada] double trouble

As coisas haviam tomado rumos que Natasha não podia prever e aquilo a desagradava. Odiava quando os sentimentos controlavam suas decisões. Não era assim que uma boa Dragomir agia. Era ridículo ficar em casa bebendo sozinha para não pensar naquela que não deveria ser nomeada nem mesmo em pensamentos. Não. Natasha faria o que sempre fez: ir a uma boa boate, ver pessoas bonitas, sondar a vida noturna da cidade, ver se havia alguém novo se destacando e quem sabe dormir bem acompanhada. Sim, essa era a boa e velha Dragomir.

Gostando de sua decisão, terminou o que tinha de fazer na redação, deixando o máximo de coisas encaminhadas para o dia seguinte, como gostava e foi até em casa tomar um banho e colocar uma roupa apropriada. Mandou mensagem para Corinne, a colunista da vida noturna, pedindo indicação de alguma boate interessante e deu o endereço para Volkov, seu motorista e segurança. Rápido estavam no local, que parecia agradável, de fato. Natasha adentrou sozinha, mas Volkov foi atrás, mantendo distância, mais para garantir que ninguém a importunasse do que impedir alguma ameaça real.

A loira pediu sua bebida preferida: vodca com gelo e procurou uma mesa para observar a multidão. Por mais que tivesse se obrigado a sair, não podia se obrigar a aproveitar, isso estava além de seu alcance. E o máximo que conseguiu foi bebericar a vodca, olhando ao redor, sem de fato ver nada. Perdida em pensamentos bem distantes dali. Porém foi chamada de volta à terra por uma voz que lhe chamava atenção e encarou sua interlocutora. Não sorriu, entretanto não havia hostilidade em sua expressão. — Natasha. — falou à guiza de cumprimento e indicou a mesa para que a outra a acompanhasse. Não era uma mulher de muitas palavras. — Boa companhia, então? — não conseguiu evitar de perguntar, arqueando a sobrancelha em questionamento. Era mais jovem que a Dragomir e tinha um ar de diversão agradável, mas Natasha era dura na queda e demorava alguns drinks para se soltar.

Ainda que fosse de poucas palavras, Natasha era extremamente observadora e não perdia qualquer movimento da garota a sua frente, querendo conhecê-la antes mesmo que ela falasse. Mas estava achando que se perguntasse, a outra responderia sem muito rodeio, não parecia fazer o tipo misteriosa. E nem dos que escondiam suas reações, como a própria Natasha, que escondeu um sorriso ao ouvir a resposta sincera de Bekk. Estava começando a acreditar que a outra era uma boa companhia realmente e que tomara uma boa decisão ao deixar de beber sozinha em casa.

Quando Bekk encarou a pista, Nat também o fez, admirando as pessoas que dançavam animadas, fosse pelo álcool ou por animação verdadeira. Ela as invejava. Mas voltou a atenção para a loira à sua frente e, pela primeira vez, deu um pequeno sorriso. — Curiosa, uh? — comentou e finalizou a bebida que havia em seu copo, em seguida fez um sinal com a mão para o barman com o copo vazio. Natasha Dragomir não esperava em filas de maneira alguma. O homem aproximou-se da mesa e trouxe dois novos drinks para as duas. Ser a diretora de redação de uma revista que colocava e tirava pessoas e estabelecimentos dos holofotes tinha lá seus benefícios.

— Que tal se não falamos do passado? Prefiro o futuro e o que ele pode nos proporcionar, entende? — sugeriu com um segundo sorriso, agora um tanto malicioso. Queria esquecer do trabalho, das inquietações e o motivo que a fizera decidir visitar a boate. Talvez drinks e uma boa companhia fosse exatamente o que precisava e Bekk tinha acertado em cheio.

Gostou da rapidez com que a outra se adequou a situação, a fazendo admirar Bekk um pouco mais. Pessoas lentas ou questionadoras demais irritavam Natasha e nunca era bom quando ela ficava irritada. Mas aquele era um momento de descontração, com alguém adaptável, que parecia disposta a fazer daquela uma noite divertida. Então a Dragomir estava decidida a fazer o mesmo.

Não conseguiu evitar o sorrisinho que se desenhou em seus lábios ao ver a careta que a outra fez ao tomar a bebida que o barman lhes serviu. Vodca importada direto de sua terra natal era realmente forte. Não aquela água alcoólica que vendiam em alguns lugares e tinham o desplante de chamar pelo mesmo nome. Não. Aquela era a verdadeira, importada pela família de sua mãe e vendida para poucos estabelecimentos. — Não tenho tempo para rodeios. — explicou, tomando um longo gole de sua bebida sem careta, já que a tomava desde muito jovem, já que sim, seus pais, como muitos russos, achavam que vodca deveria ser tomada desde berço, para a imunidade e porque era isso que fazia um russo forte. Malditos esteriótipos verdadeiros.

— Vodca da minha terra. Vladvostok. Tu é forte, uh? — havia algo de admiração em seu tom, pois não era qualquer um que tomava a bebida sem fazer um escândalo. — Gostei. — admitiu e bebeu o resto que havia em seu copo, sinalizando para que o barman trouxesse mais. Era uma mulher um tanto arrogante e pouco delicada, que estava acostumada que todos fizessem o que ela queria. Mimada. — Se quiser beber outra coisa, só pedir. — falou com displicência apontando o garoto que trazia mais vodca para as duas, mas parou para ver se queriam algo mais.

A garota, por mais que Natasha não quisesse admitir, era interessante e estava lhe distraindo realmente, até a fazendo sorrir sem que percebesse. Talvez boas companhias não fossem tão ruins assim. Ser um dragão solitário era... Bem, solitário às vezes. E ela era orgulhosa demais para admitir. Então mantinha a pose e silenciosamente aproveitava a risada fácil de Bekk e as coisas espirituosas que ela dizia.

Natasha sentia falta de ser jovem, de não ser Natasha Dragomir, de não ser a pessoa que havia se tornado, de apenas se divertir. Mas não é possível escapar de si mesmo e o que podia fazer era estar ali e aproveitar dentro de seus próprios limites. Que pareciam um tanto diferentes dos de Bekk e isso a fez sorrir novamente, entendendo muito bem o que a outra queria dizer. Como a boa filha de classe alta, já tivera seu momento rebelde e experimentara quase tudo o que havia para experimentar. Até decidir que álcool e cigarro estavam de bom tamanho. Gostou bastante que sua nova companhia apreciou a vodca e pediu mais, era um tanto vaidosa, até mesmo quando o assunto era bebida. — Claro, te levo onde quiser. — respondeu com seriedade, vendo-a abrir a bolsa transversal que carregava.

Os olhos esmeralda da Dragomir encararam a mais nova, sem saber muito bem se entendera onde ela queria chegar com aquela pergunta. Mas imaginou que tinha a ver com o que havia naquela bolsa e achou melhor ir por aquele caminho mesmo. — Aprendi de tudo, mas prefiro ficar só com a vodca mesmo. — foi a resposta da russa. Logo o barman voltou com os drinks e Natasha pediu que ele trouxesse uma garrafa inteira, que seria mais prático. — Tu é de onde? — perguntou à Bekk mais para puxar papo, do que por interesse genuíno. Não sabia se ainda se falariam depois dali, caso não, preferia não guardar informações inúteis.