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Mensagem por Erkki Jori Laaksonen Qui 15 Ago - 13:17:59

Josephine.

Josephine.

Josephine.

O nome ecoava em minha cabeça vezes consecutivas, ininterruptas e insistentemente. Nos sonhos, nos banhos, nos momentos de tensão e nos momentos de terror. A saudade apertava no peito, mas não era o sentimento que doía. Não era dor. Era uma desmotivação tão avassaladora que tornava impossível a simples missão de me levantar do sofá para ir ao banheiro de tempos em tempos.

Solidão.

Confusão.

E então, bloqueio criativo.

No momento em que minhas mãos pararam de produzir como minha mente, eu não tinha mais vontade de sequer tentar ser útil. Não conseguia escrever, não conseguia focar e o filme que havia conquistado há alguns meses estava a ponto de ser cancelado.

É claro, o diretor havia tido o maior mental breakdown da história, e - por mais que eu pensasse que talvez as pessoas fossem dispensáveis - aprendi que talvez não fosse bem assim.

Eu via o seu sorriso. Via o âmbar dos seus olhos, sentia o cheiro do seu cabelo, mesmo sabendo que ela estava há quilômetros de mim. E quando a melancolia começou a ficar insuportável, comecei a aumentar as doses do whisky até que fosse incapaz de sentir qualquer coisa. Minhas mãos arrancavam folhas de papel, tentando escrever algo, mas logo as amassava em frustração e as arremessava para o outro lado da sala.

E eu fazia de novo e de novo na medida em que, em algumas semanas, o chão estivesse completamente coberto por pedaços de papel compostos por fragmentos da criatividade bloqueada - bons textos, mas sem início, meio ou fim.

Sem sentido, tudo era lixo.

Soltei um grunhido de irritação quando senti minha visão ser tomada por uma luz forte demais para o meu gosto. Minha mão foi cuidadosamente à minha testa, ciente de que se eu mexesse minha cabeça rápido demais, provavelmente esmagaria alguns dos poucos neurônios restantes.

Meu corpo doía como se eu tivesse sido atropelado por uma horda de rinocerontes, então desisti de me mexer e me mantive deitado - minha cabeça apoiada desconfortavelmente sobre o sofá no qual eu havia apagado na noite passada, igual à anterior e a antes dela também.

- Deus, Erkki. Eu estava começando a pensar que você não estava vivo.

Ouvi a voz conhecida, fazendo uma careta de dor quando o som ecoou em minha cabeça. Por que tinha que falar tão alto?

- K-Katrina?

- E quem mais se aventuraria a entrar nesse chiqueiro e desafiar a possibilidade de encontrar um corpo em decomposição nesse sofá? Mas devo admitir: quando te vi imóvel aí, realmente achei que teria que chamar o necrotério.

A mulher atravessou a sala extremamente suja e usou das mãos como impulso para abrir as cortinas que cobriam propositalmente as grandes janelas. Soltei um grunhido quando a luz entrou no apartamento, me cegando por passar muito tempo no escuro e ter sido - contra a minha vontade - jogado à claridade.

Eu senti raiva de Katrina por ter invadido a minha casa em meio ao meu luto. Senti raiva por ela estar me tirando do meu tormento solitário.

Mas quando ela finalmente conseguiu enxergar o estado do apartamento, pareceu até se esquecer da razão de ter ido ali.

- Erkki, o que você fez?

A surpresa era clara em sua voz - perceptível mesmo que eu não estivesse a observando.

Eu ainda estava jogado contra o sofá, incapaz de me mover, mas completamente alinhado da imagem que Katrina absorvia naquele momento.

Eu havia dispensado a faxineira há algumas semanas, então todo o lixo estava acumulado ali. Caixas de pizza, comida japonesa, chinesa e todas as tentativas que eu tive de jantar, a maior parte ainda em sua metade por minha falta de apetite, apodrecendo sobre a mesa - algumas sobre o chão. O tapete era imperceptível sob a quantidade alarmante de folhas de papel escritas que se espalhavam por toda extensão dos trinta metros quadrados de sala, contendo as partes mais íntimas e sombrias de cada pensamento meu.

Eu não trocava de roupa há muitos dias. Havia perdido a conta, mas sabia que havia me levantado poucas vezes para ir ao banheiro em relação às horas que havia passado deitado em meu leito. E garrafas de bebida compunham a decoração da cena quase trágica - em torno de setenta ou oitenta - todas vazias e jogadas contra o chão, algumas respingando do restante de seu líquido caro.

Eu havia secado o meu estoque e agora me lembrei disso, quando me recordei do momento na noite passada em que havia tido um surto nervoso por falta de álcool. O lado bom era que eu estava bêbado o suficiente para tropeçar sobre uma das garrafas e bater a cabeça no sofá - o que explicava a dor e a pose desconfortável.

Não tão desconfortável quanto perceber que Katrina se abaixava e colhia uma das folhas, dando uma rápida lida em seu material sem sentido.

E, de novo, ela pareceu surpresa.

- Erkki. Isso aqui é muito bom. - Falou em tom impressionado, colhendo papel atrás de papel. - É tanto potencial desperdiçado que chega a me deprimir. E não estou falando nem dos textos.

- Qual é o ponto, Katrina? - Perguntei em um grunhido de dor conforme me esforçava para me sentar sobre o sofá. Assim que o fiz, senti todo o mundo girar em torno de mim, fazendo com que eu tivesse que parar por alguns segundos para não desmaiar. Quando percebi que estava equilibrado, me coloquei de pé, sentindo todo o meu corpo doer em resposta. - Acabou a bebida.

Falei em tom de tristeza, meus pés caminhando com dificuldade, cambaleando ao suporte do meu corpo a cada passo que eu dava. Me dirigi até a adega e soltei um suspiro, percebendo que estava sem garrafas.

Um estoque de quase quinze anos.

- Eu preciso de mais bebida.

- Você precisa de um banho e de um belo gilete. Talvez de um exorcista. - A mulher respondeu, fazendo com que eu revirasse os olhos. Pelo menos foi engraçado. - Você não pode deixar a vida te destruir assim.

- Já destruiu.

Respondi simplesmente, fitando os meus pés.

Era verdade. Eu não tinha mais nada: não tinha criatividade, não tinha qualidade, não tinha amor, não tinha bebida. Me restou nada.

Eu havia perdido tudo o que um dia me tornou o que eu era. E eu não sabia lidar com o vazio em meu peito.

- Pobre, pobre Erkki! - Senti todo o meu corpo se arrepiar com o tom que saiu da voz da mulher. Meus músculos se tensionaram, incomodados com as palavras que a ouvi dizer, claramente apenas para me atingir. - É isso o que espera de mim? Dó? Porque é o que parece, já que você fica se lamentando e vivendo como um bêbado depressivo e sujo.

- Sua presença é encantadora, Katrina.

Resmunguei em tom levemente irritado, ressentido pela ideia de ser digno de pena.

Pena. Esse sim era um sentimento que jamais aceitei ser alvo de sequer uma pessoa em minha vida. E, como minha assessora e amiga de anos, Katrina sabia exatamente em qual ferida cutucar. O que ela não sabia é que eu estava miserável demais para reagir da mesma maneira que eu faria há alguns meses.

- Não. Eu não estou aqui para ser encantadora. Estou aqui para te lembrar que você tem uma vida para cuidar e a porra de um filme para terminar. - Ela grunhiu em tom irritado, caminhando em minha direção. Me sentei sobre a poltrona, soltando um suspiro. - Quando vim trabalhar com você, escolhi trabalhar com Erkki Laaksonen. Dediquei minha carreira inteira à isso, construí uma imagem e um negócio para você e eu não irei aceitar ficar sentada e ver todo o meu trabalho queimar assim. Eu lutei demais para você chegar onde chegou. Você lutou demais para alcançar tudo, mesmo sendo uma criança mimada. E eu não vou aceitar, em hipótese alguma, você desperdiçar tudo o que eu apostei em você. Você vai se levantar dessa porra de sofá, vai lavar esse rosto, vai contratar uma imobiliária e vai mudar de casa, porque essa não tem mais cura.

Ela ditou o passo a passo, cada palavra sua me atingindo como um tapa na cara. Em determinado momento parei de tentar respondê-la, apenas a observando em curiosidade - como uma criança levando bronca da mãe.

- Eu não tenho o dia todo e você parece que vai morrer em menos tempo. Get your shit together, Erkki. Antes que eu mesma arranque as suas roupas e te enfie debaixo de uma ducha fria.

Eu não queria tomar banho. Na verdade, tomar uma ducha era o último pensamento que me passava naquele momento.

Katrina havia esclarecido algumas coisas para mim. Em algum momento do seu discurso, fui levado para uma eternidade atrás, quando eu ainda era um garoto lutando para conquistar o meu espaço nos holofotes, buscando ultrapassar o nome dos meus pais. Me lembrei de quando conehci Josephine, de como ela colocou a mão em meu ombro muitas vezes e disse que eu conseguia fazer, mesmo que fosse uma missão impossível.

Me lembrei que eu odiava que as pessoas sentissem pena de mim.

Me lembrei que eu era Erkki funcking Laaksonen.

Se eu queria alguma coisa, eu conseguia. Sempre foi assim e eu não estava disposto a continuar com uma mudança. E, se eu tivesse força e sobriedade para me colocar de pé e recuperar a minha vida, eu o faria.

Mas eu apenas consegui cair sobre o sofá e bater a cabeça contra a almofada macia de novo. No entanto, quando Katrina suspirou em cansaço, apenas consegui dizer:

- Assim que a ressaca curar, chame Elliot para fazer as minhas malas.

- Erkki… - A voz da mulher soou em tom duro. Sabia que sua expressão estava da mesma forma. - Você sabe que não foi isso o que eu quis dizer. Você não deve ir atrás de Josephine! Águas passadas! Você tem que voltar para o f-

- Foda-se o filme. - Interrompi antes que ela pudesse continuar. - Peça para Leonard comprar uma passagem para os Estados Unidos também. Estou indo á Nashville.


Erkki Jori Laaksonen
Erkki Jori Laaksonen
Diretor e Roteirista


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