Encarou os lábios estourados contra o espelho. Ela sabia que o murro que tinha levado tinha tido consequências muito maiores para o homem que fez aquilo nela e - apenas por isso - não estava, ainda, bufando de raiva. Olhoupara a blusa de pijama larga que caía levemente sobre o seu corpo. Tinha acabado de acordar por ter passado toda a noite e madrugada anterior planejando um milhão de jeitos diferentes para melhorar o tráfico que ela tinha acabado de tomar conta. México e Estados Unidos. Era a rota mais tranquila, mas, para o novo cargo, era perfeito para ela aprender. Se arrependeu, novamente, de ter prometido a Angelique que a levaria no ponto de encontro delas: o café da rua 12, a três quarteirões do seu prédio. Ela só estava de pé naquele momento porque estava com saudades da detetive.

A campainha tocou e Madison olhou para o relógio. Sim. Ela estava atrasada.

De novo.

Pensou um pouco e talvez ela não passasse de hoje. Sabia o quanto a melhor amiga odiava quando ela se atrasava, mas tinha certeza que ela já estava acostumada e que sua saudade a deixaria menos brava. Andou até a porta simples. Não podia chamar muita atenção com casas grandes, por mais que tivesse o dinheiro para aquilo, principalmente por ter uma detetive como sua melhor amiga. Ela não podia correr esse perigo com ela.

Abriu a porta com um sorriso cínico na face. Sentiu o olhar da outra garota correr todo o seu corpo mas, antes que ela pudesse falar qualquer coisa, a puxou pelos ombos para um abraços. Quinze dias no México tinham sido dias demais para ficar longe da garota.

-Não brigue comigo, eu já vou me arrumar. Acabei de acordar. -Depositou um beijo na bochecha alheia. Sabia que se fosse um pouco mais para a direita iria se fazer um milhão de vezes mais feliz. Mas se controlou. Puxou a garota para dentro e bateu a porta com o pé. -Como foram esses quinze dias sem o amor da sua vida, mais conhecido como eu?

Abriu um largo sorriso e pegou a calça clara que estava em cima do sofá.

-Sabe, eu nunca entendi porque você gosta tanto desse lugar. O pão é velho e o café é fraco. Nós poderíamos ter ficado em casa.

O sorriso claramente irônico estava em seu rosto mais uma vez. Sentou-se à frente da garota, observando seus traços pelo o que parecia ser a milésima vez. Madison tinha certeza que jamais na sua vida acharia uma mulher tão bonita quanto Angelique.

-Conseguiu trabalhar mais um pouco no caso do amante?

A ideia de Angelique estar solteira tinha um gosto doce e amargo na boca da Cubana. Ela sabia que era egoísmo dela querer a melhor amiga solteira para conseguir aproveitar os momentos mais tempo com ela, mas, ao mesmo tempo, sabia que todos os momentos - que eram tão importantes para ela - eram vistos por Angelique apenas como "mais um dia com sua amiga".

Assentiu silenciosamente quando ela comentou sobre o babaca que ela estava namorando. Um meio sorriso maldoso tomou conta da face da morena enquanto ela levava o canudo do seu café gelado até a boca.

-Eu disse que ele não prestava. -Porra, e como ela adorava estar certa. -Mas eu realmente tinha perguntado o do casal. De qualquer maneira, é bom saber que você abriu os olhos para esse idiota. Mesmo eu te falando um milhão de vezes que tinha algo de errado com ele.

Deu de ombros.

-De qualquer maneira, qual o próximo caso? Mais uma mulher de coração partido? -Jogou as notas para o seu café e o de Angelique na mesa e se levantou com a outra garota. -Por falar nisso, vamos lá no Centennial, o Thomas disse que também queria me ver hoje. Ao contrário de você, eu tenho mais amigos.

Brincou com a loira no momento que ela se levantou. Angelique estava linda, mesmo com a face levemente cansada que aparentava de uma noite mal dormida. "Com certeza não teria tido uma noite mal dormida comigo". O pensamento passou por sua cabeça, mas escolheu deixá-lo lá. Quando saíram na rua novamente, colocou seu braço entrelaçado ao dela.

Não era uma caminhada muito longa. Dez minutos no máximo. Madison nunca tinha sido uma pessoa de falar muito, ou demonstrar o que sentia. Ela tinha sido criada desse jeito para que não demonstrasse o que sentia nem mesmo nas piores das situações. Ela se sentia feliz em deixar o papel da tagarela para a mulher ao seu lado.

-Eu trouxe vários presentes para você do México. Mas você falou tanto na minha casa que não deu tempo de te mostrar. -Ela sabia que aquilo ia atiçar a curiosidade da maior. -E, por falar nisso, como foi essa aventura no Tinder?