[RP FECHADA] Whiskey in the Jar

Wild & Free

Existiam três coisas das quais Brendan tinha plena certeza de que jamais abriria mão: mulheres, bebidas e, é claro, música. O The Stage on Broadway, para onde ele se dirigia nesse exato momento, oferecia tudo o que o irlandês mais desejava. Eis por que se tornara presença assídua naquele local, a ponto de comparecer ali ao menos duas vezes por semana. Tamanha frequência, aliás, transformou-o em uma espécie de figura ilustre no ponto de vista geral; com o tempo foi adquirindo fama e prestígio devido à sua natureza receptiva e sempre bem-humorada diante das pessoas, e também graças às apresentações que regularmente costumava realizar — sozinho ou acompanhado, o fato é que todos se viam instigados pela presença envolvente dele no palco. Hoje o rapaz pretendia manter viva essa prática. A noite era promissora, de fato, e nem sequer chegara à metade quando a imagem de Brendan — alto e relativamente forte, dono de um aspecto imponente, e cujo andar, repleto de firmeza, passava a impressão de alguém seguro de si mesmo — acabava de adentrar o estabelecimento.

Logo após avançar os primeiros passos, viu-se recepcionado por um rol de gente — homens e mulheres — que vieram cumprimentá-lo e questioná-lo sobre a possibilidade de se apresentar no palco em breve. Ostentando o típico sorriso arteiro no semblante, Brendan replicou: — Qual seria o sentido de vir aqui se não fosse por isso? — E, por fim, afastou-se; agora dirigia-se ao bar. Não demorou a alcançá-lo. Ao bartender, que o recebeu com ar respeitoso, o irlandês solicitou de imediato três doses de uísque. Enquanto a bebida era servida, ele lançou um olhar interessado ao redor, e depois no sentido do palco, no qual uma banda — relativamente popular na área — encontrava-se ainda se preparando para iniciar a apresentação. A propósito, Brendan a conhecia já há uns meses — o primeiro contato acontecera em um dos vários pubs de Nashville —, e desde então ele e os integrantes mantiveram contato. Esta noite fora convidado pelos mesmos para partilhar do palco durante algumas canções. Covers, de um modo geral. E evidente que aceitara. Ele buscou o copo de uísque no balcão, serviu-se de longos goles até esvaziá-lo, e, finalmente sentindo a velha adrenalina dominá-lo, começou a encaminhar-se na direção dos caras, cruzando o mar de pessoas que praticamente lotavam o lugar.

Assim que alcançou seu destino e tomou a liberdade de se misturar e interagir com a banda como se fossem íntimos entre si — o que não deixava de ser verdade —, ficou decidido que Brendan assumiria os vocais. Em seguida lhe repassaram todo o repertório. A primeira música seria Paradise City do Guns N' Roses. Ótima escolha para introduzir o show, sem dúvida. Nesse instante uma multidão mantinha os olhos repletos de expectativa na banda que estava prestes a dar início à costumeira agitação do The Stage on Broadway. No papel de frontman, Brendan se ocuparia em instigar os espectadores à sua maneira libertina. Com o microfone em mão, portanto, demonstrou seu controverso dote comunicativo ao disparou as seguintes palavras: — Hey, em primeiro lugar: boa noite... Em segundo: divirtam-se, porra! Quem eu ver parado nessa plateia farei questão de arrastar para fora daqui, fui claro? — Em resposta ouviram-se aplausos, gritos animados, assovios; tudo misturava-se. — Curtam a música. Essa vocês definitivamente conhecem! — Então os acordes célebres da guitarra começaram a repercutir.

Seria uma noite insana.

Wild & Free

A sensação de estar no palco conduzindo um show era indescritível. Havia uma atmosfera singular tomando o ambiente, algo frenético, acirrante e ao mesmo tempo harmônico — os envolvidos naquela súbita agitação generalizada estavam em perfeita sintonia. — Isso aí! Não parem! — Brendan constantemente berrava tais ordens ao longo da música a fim de encorajar o público a permanecer em plena euforia. Surtia um efeito imediato; eles o obedeciam sem hesitar. O irlandês, vale frisar, em momento algum se deixava intimidar pelo mar de pessoas à sua frente; possuía enorme força de espírito e atitude suficiente para se impor diante de quaisquer circunstâncias. Além disso, estava familiarizado com cenários assim, onde atribuía-se o papel de protagonista. Continuou impecável nos instantes seguintes, demonstrando um desempenho notável até os últimos segundos de Paradise City. Ao final desta, aplausos e urros ensandecidos preencheram o local. — Valeu, vocês foram ótimos! Que tal mais uma antes do meu amigo Matthew aqui — indicou o vocalista oficial da banda que por ora limitava-se à função de guitarrista — retome os vocais? — As pessoas logo reagiram por meio de gritos empolgados numa clara aprovação.

Nessa hora um sujeito subiu discretamente ao palco e depressa distribuiu garrafas de cervejas aos membros. Um privilégio e tanto para quem se apresentasse ali. Brendan tratou de abrir a sua e se serviu de longos goles antes de prosseguir: — Huh. Essa próxima é clássica... Uma música sexy e apaixonante. E eu pretendo dedicá-la a... — fez-se uma pausa; seus olhos maliciosos percorreram as mais diversas faces femininas ao redor, e apenas se detiveram quando encontraram a admirável garota ao bar cujos traços graciosos provocaram nele inesperada atração —, você, querida. — Ele lhe ofereceu um sorriso arteiro; com certeza despertara o ciúme das suas várias pretendentes no The Stage on Broadway. — Sim, a bela e carismática senhorita ao balcão. Te dedico Crazy do Aerosmith. Espero que goste. — O olhar de Brendan, a partir desse ponto, insistiu em fitá-la, apreciando suas feições suaves e fascinantes, e mesmo ao início da música ele se deu conta de que não conseguiria deixar de observá-la, como se hipnotizado pela presença dela. De fato, os segundos foram passando e pelo visto o irlandês levara a sério a proposta de dedicá-la aquela canção, pois ainda atrevia-se a encará-la conforme a música avançava. O único momento em que se viu sair do transe e desviar a própria atenção da desconhecida foi justamente ao término; vocal e instrumental silenciaram-se.

Meio desconcertado, sentindo-se invadido por sentimentos estranhos, agradeceu efusivamente ao público e à banda pela oportunidade, e garantiu que retornaria em breve. Então, munido da cerveja, que encontrava-se já pela metade, abandonou o palco e, é claro, pôs-se a seguir na direção do bar. Ela, a garota de semblante encantador, permanecia posicionada rente ao balcão. Sozinha. Brendan não deixaria a oportunidade passar; respirou profundamente, assumiu uma postura altiva e tomou a liberdade de aproximar-se. Assim que a distância entre ambos tornou-se quase mínima e ele pôde verificar que a beleza feminina era ainda mais deslumbrante de perto, arriscou um diálogo: — Hey... E aí, o que achou da apresentação, hm? Ou melhor, o que achou da música que foi dedicada exclusivamente a você? — O irlandês sorria com astúcia, e num gesto que julgava sensual em si, deslizou os dedos nos cabelos de modo despretensioso, fingindo naturalidade. — Aliás, antes de tudo... Brendan. Prazer. — E estendeu-lhe a mão. — Pode me dizer seu nome e o porquê de uma garota como você estar só aqui? Difícil acreditar.

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Já na primeira troca de olhares o irlandês notara uma espécie de malícia peculiar por trás do lindo rosto da garota. Quando lhe dedicara a música instantes atrás, do palco ele pôde verificar em seus lábios o desabrochar do sorriso triunfante de quem estava habituado a receber prestígios como aquele mas ainda assim saboreava a vitória. Não se tratava de uma jovem qualquer; ela definitivamente tinha plena convicção do quão desejável e expressiva era a sua presença ali em meio a tantas outras pessoas. O próprio Brendan, sempre versado e cheio de desenvoltura ao lidar com as mulheres que surgiam em sua vida, havia se rendido ao charme da loira e agora sentia-se invadido por um nervosismo inusitado enquanto ambos prolongavam a recente interação. Seus instintos lhe gritavam para que fosse cauteloso; qualquer mínima falha poderia fazê-lo perder o controle do jogo. — Ora, não há o que agradecer. Fico satisfeito que tenha apreciado a homenagem — dissera à garota, valendo-se de um tom neutro que julgara adequado à situação.

Depois, no momento em que a destra dela repousara sobre a sua palma a fim de retribuir o cumprimento, Brendan relanceou a vista para a delicada mão e compreendeu, pela posição em que esta se encontrava, como deveria proceder. Eis que a ergueu sutilmente e beijou de forma breve a pele macia antes de soltá-la. Após esta cena um tanto excepcional, o diálogo prosseguiu. Ganhava ritmo aos poucos; ainda era cedo para pressupor se aquele contato envolvendo os dois se estenderia no decorrer da noite. — Sim, percebo que você é real. E, se me permite dizer, é justamente por isso que vejo estranheza no fato de encontrá-la aqui sozinha. Uma garota com seus atributos... Céus, o que há de errado com os homens desse lugar? — Fingindo uma expressão de impaciência com o propósito de salientar suas últimas palavras, Brendan revirou os olhos e deixou um pesado suspirou vir à tona, porém logo em seguida readquiriu o semblante ardiloso. — Quanto à diversão, tenho certeza de que posso cuidar disso. Eu e alguns drinques. — Outro sorriso repleto de astúcia. Então voltou a se servir da cerveja enquanto punha-se sentado ao lado da sua possível presa.

— Diga-me, senhorita, o que te trouxe a Nashville? Levando-se em conta o que me disse, percebe-se que não é daqui. Trabalho? Estudos? — De sobrancelhas arqueadas, demonstrava uma curiosidade genuína a respeito da recém-conhecida que, por algum motivo, esquivara-se de revelar seu nome. A agitação calorosa do público de repente voltou a ganhar vida. Pois a banda, dessa vez sem a presença de Brendan, decidira dar continuidade ao show no palco. O riff memorável de The Jack, do AC/DC, provocou o êxtase das pessoas. O irlandês precisaria se debruçar na direção da loira se quisesse ser ouvido — e também ouvi-la, é claro. Foi o que fez a seguir. — Maldito clássico. Não vamos deixá-lo atrapalhar nossa conversa. Continuo à espera das suas respostas. E do seu nome. — A voz havia soado inalterada; Brendan estava tão próximo da garota que achou desnecessário elevá-la.

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Alguns minutos de diálogo foram suficientes para Brendan se convencer de que a garota diante de si era sem dúvida uma figura excêntrica. Ela possuía essa singularidade marcante na personalidade e se distinguia de qualquer outra mulher com a qual o irlandês se relacionara. Talvez isso explicasse, de certo modo, por que ele se via cada vez mais atraído pela jovem, a ponto de, nesse exato momento, estar ali procurando formas de persuadi-la a se render aos seus caprichos. Embora esse objetivo aparentasse uma complexidade maior do que ele esperava, Brendan sempre foi dado a desafios; agora sentia como se estivesse enfrentando um e, justamente por isso, não pretendia retroceder. Até aquele instante havia obtido êxito em manter a atenção dela fisgada. O irlandês persistia e seguia relativamente bem em suas investidas veladas de humor, tendo inclusive a proeza de arrancar risos da companhia, o que é sempre um bom sinal. Mas, verdade seja dita, ainda não podia se dar ao luxo de usufruir da vitória. Tudo continuava em aberto. — Três? Bem, eles deixaram a única oportunidade passar. — Uma breve pausa. — E quanto às mulheres daqui... Não se preocupa. Elas tendem a ser assim, meio... possessivas — ironizara após dirigir rapidamente o olhar às pretendentes que a loira apontara.

Em meio à conversa não pôde deixar de reparar no fato de a garota continuar se desviando em revelar particularidades a respeito de si. Como se fingisse não ouvir as perguntas do irlandês ou tivesse algo a esconder. Claro que isso o intrigava. Porém achou prudente não pressioná-la agora; seria precipitado. De repente a loira, pela primeira vez demonstrando uma audácia inesperada, solicitou ao bartender quatro doses de tequila; Brendan, ao testemunhar tal cena, simulou uma cômica expressão de surpresa. — Sim, alguns drinques, mas... — Interrompeu-se ao vê-la tomar a liberdade de buscar sua cerveja e servir-se de um gole desta. Experimentando uma satisfação interna, ele se deu conta de que o lado atrevido da jovem despertara. Dois pares de pequenos copos foram assentados sobre o balcão. O bartender logo os preencheu. — Huh, claro... Tim tim. — Ele, que sorria em evidente animação, buscou um dos copos e, imitando a atitude da garota, ergueu-o a fim de brindar. A seguir revirou todo o conteúdo num único movimento brusco; repetiu a ousadia com o segundo recipiente. Sal e limão complementaram a ação ao final. O sabor pungente do álcool era sempre bem-vindo e fê-lo suspirar de forma desejosa. — Porra, isso é muito bom.

Brendan, por fim, estava prestes a respondê-la acerca da música que preenchia o ambiente, quando o puxão abrupto no seu braço o deteve. Ao ver do que se tratava, compreendeu a intenção da garota e simplesmente se deixou levar em silêncio à pista de dança. Após se misturarem à enorme plateia, a silhueta do irlandês, assim como a dela, passou a mover-se de acordo com o ritmo incitante de The Jack. As pessoas ao redor faziam o mesmo. Todos pareciam mergulhados naquele som provocante. — Então era esse tipo de diversão que você buscava para hoje. — Estavam próximos um do outro, e muitas vezes, à medida que remexiam-se, as curvas dos corpos roçavam entre si suavemente. — Mas não consigo deixar de me perguntar qual será o seu limite ao longo da noite. Sabe, você é enigmática demais e isso me deixa atiçado. No bom sentido. — Os olhos dele se firmaram nas feições femininas, parecendo estudá-las na tentativa de decifrar o que ela tinha em mente. — Aliás, preciso confessar que estou surpreso com sua capacidade de abusar da inconsequência. Como se não tivesse nada a perder. — Era verdade. O rosto bonito da recém-conhecida podia enganar à primeira vista. Como Brendan presumira, por trás dos belos traços existia uma libertina movida pela imprudência. — Uma ideia acabou de me surgir. — A voz do rapaz gradativamente tornava-se ofegante devido ao compasso incessante dos movimentos. — Você subiria ao palco pra arriscar cantar alguma música de sua preferência? Posso falar com os caras, caso a resposta seja sim.

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Toda aquela atmosfera frenética à volta deles suscitava a ideia de libertinagem. A sensação de que podiam agir conforme os instintos mais controversos não passava despercebida. Era como se ali tanto Brendan quanto a garota não tivessem absolutamente nada a perder; ambos se entregavam à perdição de um jeito insolente e pareciam não se importar nem um pouco com isso. Eis por que ao longo do tempo os dois, em perfeita sintonia, permaneciam à mercê do ritmo acirrante da música, vivenciando o momento de forma intensa e audaciosa. — Na verdade, dançar e beber são seus pontos fortes — observou ele e piscou de volta à loira, ostentando um sorriso cínico em resposta ao seu semblante malicioso. De repente, logo após o término momentâneo do diálogo, o irlandês teve as mãos fisgadas pela jovem adiante, e antes que pudesse esboçar alguma reação, viu-se puxado para perto dela. Apesar da surpresa do gesto, ele não ofereceu resistência; deixou-se levar.

Agora estavam tão próximos, a ponto de os corpos roçarem perigosamente entre si. Por ora, sem saber ainda a razão daquilo, Brendan limitar-se-ia ao papel de espectador, aguardando a próxima jogada da garota que, assumindo de vez o lado devasso, nem sequer hesitou em revelá-lo suas perversas intenções, e, para a satisfação do rapaz, logo pôs-se a se mover de uma maneira convidativa, repleta de sensualidade. Os movimentos sedutores que ela realizava eram claramente uma provocação à força de vontade de Brendan, que nesse instante experimentava um desejo absurdo crescendo dentro de si. A excitação, no sentido mais vulgar da palavra, irrompeu assim que a garota, posicionando-se de costas, valia-se dos seus deliciosos atributos no intuito de instigar a libido do irlandês enquanto rebolava. Quanta desenvoltura ela possuía. Era quase impossível resistir à obscenidade da cena. Ele sentia a tentação atormentá-lo a cada instante, fazendo-o alimentar a ideia de avançar sobre loira a fim de saciar todo o anseio que ela despertara nele. No entanto obrigou-se a aguardar, somente apreciando com o olhar o que a garota lhe oferecia.

Foram segundos incríveis. Quando subitamente a jovem interrompeu seu ato lascivo e afastou-se, Brendan, é claro, saboreou o gosto amargo da frustração, mas nada disse. Então ouviu a pergunta inusitada que a garota proferiu, o que lhe trouxe uma expressão de estranheza ao rosto. — Moto...? Sim... É claro. — Não conseguia encontrar lógica naquela dúvida, todavia evitou contestá-la. Eles curtiram o minuto final de The Jack sem mencionar ou aprofundar a questão. Em seguida retornaram ao bar, onde encontrava-se uma das groupies de Brendan. Tentando passar a imagem de sujeito atencioso, ele retribuiu o aceno da tal fã, e com a mesma mão encobriu a própria boca na intenção de conter o riso que por pouco não lhe escapou ao escutar as palavras mordazes da loira ao lado. O som do cover de It's My Life veio à tona nessa hora. Nisso a garota novamente o abordou a respeito da moto. O irlandês, que passou a encará-la de modo analítico, enfim respondeu: — Sim, senhorita, eu tenho as chaves. — Rapidamente ele as buscou no bolso da calça e ergueu-as à vista da jovem. — Aqui. E a moto está lá fora, no estacionamento. Quer ir agora? Sua proposta me deixou bastante tentado.