— you can call it fire and ice

O inglês achava graça de tudo, mas deveria admitir que aquela garota tinha o seu charme, bêbada ou não. O engraçado era, de um modo intrigante, a contínua sensação de já tê-la visto antes e não se recordar de onde. Finalizando a bebida, ele observou o afastamento após os dizeres da outra, vendo ali uma oportunidade para fazer o seu próprio show e discretamente tentar chamar sua atenção. Estreitando os olhos para a vaga no palco, percorreu o ambiente ao serpentear o corpo entre o público, chegando ao tempo de encontrar mais um cara pronto para tomar a frente. Após rechear sua mão com cinquenta dólares, teve a permissão para subir e ter o seu espaço. Assobios e algumas cantadas foram a sua recepção, tendo a beira do palco cercada por uma quantidade considerável de garotas, inclusive a tal Ella.

— Baixinha, presta atenção em mim. — Colocando o apoio da guitarra atravessado no corpo, procurando-a com o olhar só para ver se estava tudo dando certo. Os acordes do instrumento que tocava foram suficientes para a banda pegar a referência e o público começar com o “Hey, hey, hey, hey”.


Quando começou a cantar, teve a certeza de que algumas daquelas garotas perseguiriam sua movimentação dentro do bar, o que poderia atrapalhar sua diversão de algum modo, mas aquela não era uma preocupação abundante. Existiam seguranças para serem acionados há qualquer momento, dentro daquele estabelecimento. Prestava mais atenção em conseguir a atenção da loira baixinha e bêbada com o intuito de sair do tédio, conseguir mais alguns minutos perto dela e quem sabe, numa hipótese maluca, conseguir um encontro num lugar de verdade. Nada além de conhecê-la sem os enlaces do alcoól.


Ergueu as mãos para dispersar os sons da banda enquanto sua voz se tornava o único som, garantindo a melhor experiência vocal que aquele bar poderia ter, um dia, além dos aspirantes a cantores que mal ganhariam caroços de feijões caso tentassem carreira profissional. Apontou para ela, no "but don't move, honey" e por mais que a sua atenção fosse depositada nela, a do público não saia de sua cola.

You look so perfect standing there
In my American apparel underwear
And I know now, that I'm so down
Your lipstick stain is a work of art
I got your name tattooed in an arrow heart
And I know now, that I'm so down

Voltando a mover os dedos pelas cordas de aço da guitarra, pulou para a parte final da música e não permanecer por muito tempo no palco tornando a cantar somente com o próprio acompanhamento do instrumento em mãos, influenciando os caras da banda a entrarem com o back-vocal. Niall tinha talento e qualquer um ali dentro poderia notar que ele tinha um futuro e tanto pela frente, diferente dos oriundos bebum que tentavam a sorte ao subir no palco e berrar como um cabrito bebê qualquer música que envolvesse bebida, sexo e uma mulher com acordes de um banjo pra acompanhar.

Antes de descer do palco, cumprimentou os envolvidos na performance e finalmente desceu para encontrar a marrenta, passando um dos braços por cima de seus ombros ao chegar perto. No caminho até ela precisou parar para algumas fotos e trocar breves palavras com quem tentava lhe abordar. — É só desconsiderar a parte de que estou apaixonado. — Comentou com um sorriso travesso, puxando-a pela mão ao ver que mais gente vinha atrás de si. Puxou-a na hora para longe, como se fossem Bonnie e Clyde numa aventura perigosa, e na saída, deixou uma nota de cem para pagar o que fora consumido a um dos seguranças, gritando por cima dos ombros que a gorjeta generosa deveria servir para ele retardar qualquer indício de seguirem a dupla.

Quando alcançaram o lado de fora, Niall olhou para a figura que exemplificava muito bem um dos estados mais avançados da bebedeira. — Vou chamar um táxi pra você, baixinha. — Suspirou, enfiando as mãos nos bolsos. Ela poderia negar até a morte, mas deveria saber tanto quanto ele que a pequena cena pudera ter sido o melhor ápice de diversão que poderiam ter em Nashville, fora de todo o contexto caipira da grande cidade.