Aurora's P.O.V.

Os pássaros cantavam do lado de fora da janela do meu quarto, o sol entrando pelas frestas ao lado das cortinas que desciam como cascatas na parede. Meus olhos se abriram com preguiça, a visão embaçada começando a se acostumar com a volta a vida depois do sono profundo que ela tinha tirado. O sorriso lhe veio a cabeça, lembrando de algumas semanas atrás, na casa de Sam.

Meu coração acelerou apenas ao ver o molho de chaves em minha mesa de cabeceira. A chave dourada estava ali, brilhando contra meus olhos, mostrando que Samuel, finalmente, era só seu. A chave para sua casa era mais do que uma demonstração, certo? Segundo suas palavras, era exatamente isso. Eu não podia acreditar que aquilo estava acontecendo em minha vida. Logo eu, Aurora Hepburn. Namorando. Dividindo chaves de casa. Cuidando de enteados que eu nunca achei que fosse ter.

Parece que a vida adulta chega para todos, algum dia.

No caso, aquele ano era o meu.

Desde o dia que eu realmente voltei a namorar com o homem que três semanas atrás me deu a chave de sua casa e uma promessa de vida inteira, o amadurecimento que eu era obrigada a ter foi uma coisa que a vida me empurrou goela a baixo como um pato que estava sendo preparado para virar um dos melhores foie gras da existência.

Não que aquilo fosse ruim. Maturidade chega para as pessoas em estágios e idades diferentes. Mas a corrida de acontecimentos que me fizeram tomar certos tipos de atitudes... Eu sinceramente não sabia como tinha aguentado. Primeiro um namoro, depois um enteado... Ah sim. Agora eu tinha uma criança que olhava para mim e me via como companheira de seu pai. Uma criança que olhava para mim, e via um exemplo em sua frente, fizesse eu alguma merda ou não. Uma criança a ser cuidada e ensinada a viver em um mundo onde nem eu sabia viver direito.

Meu rosto saiu do travesseiro, meu corpo coberto apenas pela larga camiseta branca se guiando - como em um desenho animado dos anos noventa - pelo cheiro de bacon que vinha da cozinha. Eu adorava quando Venus estava de bom humor. Isso significava que eu não precisava cozinhar pelo dia. Meus estômago grunhiu em desespero, os passos rápidos me levando até o cômodo que costumávamos tomar café da manhã. Um largo sorriso cresceu em meu rosto.

-Bom dia, pequeno filhote de abutre. Vejo que transou ontem.

Minha cintura bateu contra a sua bunda, e em seu rosto estava um semblante de desaprovação em meio a um sorriso. Eu adorava encher o saco da garota com esse tipo de coisa. Por um minuto fiquei olhando para minha irmã, e como, mesmo diferentes, éramos parecidas e nos completávamos. O que seria de mim se não tivesse sido adotada pelos meus pais? Só em pensar naquele tipo de coisa a angústia tomava conta do meu peito. Os ovos já estavam nos pratos, e eu me sentei em um dos bancos altos, esperando apenas as tiras de bacon que vinham de acompanhamento.

No momento que minha irmã virou a panela, eu podia sentir a felicidade tomar conta de mim, até meus olhos baterem nos pedaços de carne que borbulhavam pela própria gordura que tinham sido fritos. E foi então que algo realmente estranho aconteceu.

Minha boca não salivou com vontade de comer aquela delícia. Minhas narinas, que a segundos atrás achavam aquele um dos melhores odores do mundo, nesse momento parecia um esgoto para mim. Minha mão foi ao estômago, que se embrulhou e, toda a comida que ainda não tinha no meu estômago fez o movimento contrário ao normal.

"-Rory? Você está..."

E meu corpo deu um pulo do bando e um tiro até minha própria suíte. Os joelhos se jogaram contra o chão na frente da privada, e minha mão saiu da boca, todo o líquido que deveria ficar dentro do meu corpo saindo em desespero.

***

Meus olhos encaravam a caixa azul e branca com seriedade. A porta do banheiro estava trancada, e do lado de fora Venus esperava ansiosamente para saber o resultado. Mas eu não conseguia nem fazer o necessário para chegar no resultado. Meu coração batia forte contra o meu peito, a caixa sendo apertada entre meus dedos gélidos.

Minha menstruação tinha atrasado alguns dias. Até então, eu não tinha pensado nada demais, porque era normal do meu corpo fazer aquilo. Mas aquele enjoo matinal... Algo não estava certo. Me sentei na privada, abri a caixa e destampei o teste, o colocando em um local que o líquido atingisse, logo terminando o serviço e o colocando em cima da bancada.

Eu não sei se vocês já viram filmes americanos, mas esses realmente eram os três minutos mais longos que eu já tinha vivido. Eu não estava pronta para ser mãe. Eu não conseguia tomar conta de mim, imagine de uma criança! Eu tinha um enteado para dar atenção, um namorado, dois trabalhos e uma irmã. Meus olhos não desgrudavam do objeto.

Por outro lado, que mãe estava realmente preparada 100% durante a vida de seu filho, certo? Eu podia fazer aquilo. E dinheiro, com certeza, não era um problema. A criança teria uma madrinha maravilhosa, pais que a amariam incondicionalmente e um irmãozinho mais doce que um pirulito de morango.

E foi então, que apareceu: +

Minhas mãos tremiam, e meus olhos marejaram. Aquilo não era possível, era? Eu não sabia se minhas quase-lágrimas eram de felicidade ou de um leve desespero. Peguei o objeto em minhas mãos, destrancando a porta. Venus levantou imediatamente da cama.

"-E então?"

-Deu positivo.