[RP fechado] Put on the red light

Nashville era um lugar um tanto quanto esquisito. Acostumada com o fervor e o fogo incandescente de Hollywood, Roxanne demorou mais do que gostaria de admitir para se acostumar com a vida mais calma. Andar pelas ruas da cidade a traziam calma, por mais que ainda visse os moradores como vaqueiros e caubóis. Agora, no entanto, sentia-se como uma verdadeira nashvillense, tendo as manhas e os truques todos reservados para si mesma.

Não costumava sair de casa para nada que não fosse a faculdade ou seu trabalho, mas viu-se obrigada quando marcou um encontro pelo Tinder, o famigerado aplicativo de namoro. Nem sabia porque tinha uma conta naquilo, para ser sincera. Entretanto, o match com Erik foi quase que instantâneo, e Roxanne estava indo de encontro ao garoto. Durante o caminho, repetia palavras de encorajamento, tentando animar-se de forma que a felicidade saísse do rosto e fosse transmitida para o resto do corpo também.

Chegando no local escolhido, um clássico Starbucks, sentiu seus pelos das pernas expostas arrepiarem por conta do ar condicionado. Dirigiu-se rapidamente ao caixa, pedindo um cappuccino médio para servir como uma forma de se esquentar. Observou o espaço. Pessoas de todos os fenótipos estavam lá, casais, amigos e colegas, todos unidos por uma tarde por causa de um copo de isopor que contém uma bebida. Pegando seu próprio, voltou a olhar os arredores, desta vez procurando por um alguém específico. Não tardou a achá-lo.

— Oi! Erik, certo? — disse antes de se sentar à mesa, uma das mais afastadas. — Sou a Roxanne, mas pode me chamar de Roxie.

Deu um sorriso simpático, esperando causar uma boa primeira impressão.

— Não há problema algum, eu também já peguei minha bebida — respondeu, correspondendo ao aperto de mão dele e puxando a cadeira para sentar-se. — E para ser sincera, eu demorei um pouquinho. Não é de se espantar.

Não conhecia as regras para encontros marcados pela internet. Deveria abrir-se rapidamente e contar-lhe tudo sobre seus dilemas pessoais e traumas de infância? Ou talvez se fingir de misteriosa e passar a ponta do tênis pela panturrilha dele? Por vezes, ser engraçada e atrapalhada pode ser atraente para alguns. Ficou feliz ao saber que o garoto também não sabia exatamente como agir, se sentiu mais confortável.

— Somos dois, então. Eu nem sei porque baixei o Tinder — tomou um gole do café, lembrando-se da fatídica noite que uma colega de faculdade alegou que Bettina estava sozinha demais e precisava de companhia. — Mas por que achou estranho? Para mim, encaro no máximo como algo fútil.

Erik parecia ser uma pessoa assertiva, seu único problema no momento sendo a estranheza de tentar se comunicar com alguém que nunca viu na vida, com alguém que apenas conversou por um aplicativo. Era compreensível. Balançou a cabeça numa afirmação quando ele fez sua colocação quanto à pessoas egocêntricas e irônicas. — Também não gosto daqueles que se fazem de indiferentes — disse quando o outro terminou o raciocínio, observando-o coçar a nuca. — Cansei da indiferença na minha vida.

A frase por alto encaixava-se no contexto da conversa, mas no interior de Roxanne, fazia muito mais sentido. Riu baixinho e negou quando ele se desculpou, dizendo que esperava não ter dito nada de ofensivo, e interessou-se mais quando ouviu a reclamação sobre querer um aplicativo mais profissional. Será que ambos convergiam para o mesmo final?

— Sobre o Tinder poder ser mais profissional — começou, tomando um tempo para beber um gole do cappuccino—, eu te entendo. É bem chato perguntar de pessoa a pessoa quem gostaria de uma acompanhante… mas meu outro trabalho me dá bastante abertura, acredito.

Não queria revelar demais e correr o risco de estar enganada quanto a ele, mesmo assim permitiu-se falar mais do que devia. Ter uma boca grande era bom às vezes.

Deu uma risada gostosa quando o garoto mostrou estar animado com a recém descoberta de um ponto em comum. Agora que ela prestava mais atenção, conseguiu perceber os pequenos detalhes que também repetia quando se encontrava com clientes: a roupa casual para encontros pela parte do dia, a timidez bem-feita (ainda não sabia diferenciar a verdadeira da atuação), os floreios que poderiam demonstrar um flerte ou não. Sorriu.

— Sim, também sou — disse, aceitando o pedaço do muffin que lhe foi oferecido. — Na verdade, comecei há pouco tempo. Só tive três clientes até agora — ponderou sobre a opção de completar a frase. — Meu segundo trabalho já não me… sustenta tão bem. —

Lembrou-se de quanto ganhava em Los Angeles e ficou triste. Uma noite lá equivale a três em Nashville. Tinha sorte de seus pais ainda mandarem dinheiro e de estarem pagando a faculdade, porque se dependesse da sua própria conta bancária… pff. Ela não se formaria nem tão cedo assim e estaria vivendo a base de água.

— Essa é uma pergunta difícil. Os três que eu já tive foram… — decidiu contar de uma vez por todas. — Bem, os três já frequentavam assiduamente o clube de strip em que eu trabalho. Eles gostavam muito de mim e precisavam de companhia para eventos de trabalho, companhia para ficar em casa, companhia para jantar… e eu precisava de dinheiro — terminou de beber o cappuccino. — A combinação perfeita, não acha? — escondeu o riso por trás do copo de isopor.

Ela gostava de ser stripper, não era uma vergonha, assim como gostava de acompanhar caras mais velhos — um pouco nojentos às vezes — em suas peripécias. E encontrar alguém com quem podia falar sobre isso abertamente era quase bom demais para ser verdade.