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Mensagem por Vee-Elyse van Hepburn Ter 18 Jun - 18:00:00

i'm shinning like fireworks
Era noite de sábado, Nashville estava elétrica como de costume, mas no Bluebird Cafe toda essa eletricidade estava posta de lado por algumas horas. Era uma das noites temáticas no estabelecimento; na ocasião, se tratava de um "Blackout". O evento consistia em trazer artistas ao ambiente intimista e anônimo para apresentações onde apenas a voz era atração principal. Vee havia adorado a proposta, e não era a única, uma vez que naquela noite o lugar parecia agradavelmente movimentado - trazendo desde cantores independentes a compositores, como Brendan.

*

participantes: @Vee-Elyse Van Hepburn e @Brendan O'Neill.

local: Bluebird Cafe, Nashville.
I. RP FECHADA
II. 10pm
III.
BLACKOUT
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Mensagem por Vee-Elyse van Hepburn Qua 26 Jun - 23:11:03

 
hide&seek
give a little time to me.
Uns bons metros de jardim verde-maçã, no fundo do quintal da casa de campo dos Hepburn, moldava a distância para o quintal da residência dos Gerrard — e era como costumava ser desde os tempos dos nossos avós. E com nossos, me refiro a mim e Steven Gerrard, meu amigo caipira com quem eu havia crescido. Das janelas do meu quarto, que dava uma privilegiada visão panorâmica dos terrenos vizinhos, eu conseguia ver a janela do quarto de Steven; e nada diferente das noites de sábado através dos anos, ele estava diante do espelho, inspecionando como o jeans surrado e a jaqueta de couro poderiam constatar seu sangue rural. Ele sempre seria um menino de fazenda. Pelo reflexo, ele capturou minha imagem debruçada na janela, com um sorrisinho zombeteiro, olhando-o avaliar o resultado dos poucos minutos que se dispusera a pegar a primeira roupa que achasse no armário, antes de sair para alguma roda de viola ou bar noite adentro na cidade. 

Um sorriso alargou os lábios do loiro, antes dele capturar o velho caderno de desenho e um piloto sobre sua escrivaninha — refleti sua ação, tateando a penteadeira a uma braçada de distância. Era o nosso hábito, escrever mensagens nos papéis como comunicação. Uma grande pilha de cadernos se acumularam ao longo dos anos de amizade, e mesmo com minha mudança emergencial para o apartamento de Aurora, sempre que eu retornasse ainda continuaríamos a ser uma dupla de esquisitões que se falam através de riscos num papel.  

Qual'é, somos a geração dos Smartphone!


Steven foi o primeiro a erguer a folha branca preenchida com letras grandes.


"Sábado à noite em casa?
Deprimente, Venus... :("

"Eu estou bem,
posso sobreviver sem a isso!"

"Tenho um encontro hj à noite.
Ela é gata, deseje-me sorte."

"Sorte e proteção...
Você ainda não amadureceu o bastante
para ser um pai. :)"

"E 'cê é jovem demais para ficar isolada em casa
Ouvi que o Bluebird está perfeito para ti, pesquise."

Gerrard fez um sinal com as mãos, como se exigisse que eu me apressasse com o que ele havia sugerido, antes de liberar uma piscadela charmosa e cobrir as janelas com as cortinas. Alguns minutos mais tarde e o som da porta batendo se anunciou na entrada de sua casa, então a porta do carro, o motor roncando, o pneu raspando o asfalto pela noite.

Meu telefone celular largado sobre o colchão fora meu próximo alvo; ergui-o na penumbra que dominava meu quarto e direcionei as pesquisas para o Bluebird Cafe. Uma lista de eventos e agendas musicais se mostraram nos primeiros resultados. O estabelecimento era popularmente conhecido como um clube musicais queridinho dos artistas acústicos — todos que amavam uma boa música voz-e-violão atendiam ao Café.

Naquela noite em especial, estavam promovendo um evento para novos artistas. Intitularam como "A noite do Blackout", e todos que desejassem desfrutar de um ambiente íntimo e confortável eram muito bem-vindos. Pensar em como eu poderia aproveitar de uma boa bebida, boa música e nenhuma agitação descontrolada generalizada me fez sorrir com satisfação.


Não me faria nenhum mal ter um pouco de diversão, no fim das contas.


*

Se não fosse pela quantidade de pessoas que perambulavam desacompanhadas de um lado ao outro, ou algumas mesas recheadas de grupos, eu desconfiaria que aquela noite no Café estava reservada para algum festejo pretensiosamente romântico.

O Bluebird estava iluminado por nada além de luzes de velas, dispostas nas mesas de madeira e balcões onde eram entregues as bebidas do bar. O palco improvisado — que era o centro das atrações — tinha um foco de luz traseira, fazendo qualquer um que ousasse ir até ali para sentar e cantar ser visto como apenas uma silhueta negra, sem foco. Eram apenas contornos, indo e vindo, cantarolando suas músicas originais ou as suas favoritas.


Eu estava na minha terceira cerveja, quando a ideia de ir até lá e cantar me soou deliciosamente convidativa.

Do banco alto disposto no bar, eu observava todas as sombras que se encorajavam a cantar. Em sua maioria, eu não reconhecia suas vozes, o que indicava serem de fato artistas desconhecidos aproveitando do ambiente temático naquela noite para se mostrar ao mundo, mas não tanto. Era um pouco engraçado, não? Você fingir ser tão corajoso para ir cantar, quando sabia que depois daquilo, quase ninguém saberia identificar você no meio da multidão à meia-luz.


Ninguém saberia me identificar...


Era quase impossível que alguém naquele bar me conhecesse de fato — se a minha figura magricela passasse pelos corredores de mesas, com o tecido da saia azul de cintura-alta e o cabelo castanho-escuro solto dançando no ar, ninguém reconheceria. Não seria visto como audácia da minha parte abrir alguns botões da blusa branca rendada, afinal, ninguém ali me conhecia. O cheiro do meu perfume não traria a ninguém alguma familiaridade, e se trouxesse, permaneceria num eterno enigma de quem era responsável por aquilo.

Toda essa aura era excitante, estar ali mas não estar ao mesmo tempo. Me impulsionou a virar um último copo de cerveja, pular do banco alto e caminhar no comando de uma voz masculina animada, que anunciava o microfone como vago. Um dos violões dispostos por ali me pareceu servir perfeitamente — capturei-o antes de me sentar num banco onde um microfone se curvava, aguardando a próxima atração misteriosa.

Todos antes de mim haviam se apesentado ao público, porém, se de fato eram os seus nomes eu não saberia dizer. Um risinho escapou dos meus lábios, com o pensamento de usar um codinome falso; o som ecoou no bar e eu me calei, percebendo que todos ali podiam me ouvir de repente. Pigarreei, limpando a garganta. — Huh... Boa noite! E-eu... eu sou... Elyse, e... espero que gostem da canção — meu corpo trêmulo tentou achar postura no assento, tentei forçar minha voz a soar o mais confiante possível, antes de endireitar o violão sobre o colo e fechar os meus olhos na busca de concentração.  

Letra e melodia.

A introdução da canção era instrumental. Movida a isso, meus dedos se posicionaram nas cordas do violão, dedilhando-o de forma que o campo harmônico soasse em Sol Maior. Eu conseguia ler as cifras dos acordes em minha mente, meus dedos apenas refletiam-a disciplinadamente, fazendo ecoar pelo ambiente o efeito acústico e sereno. O tom soprano de minha voz logo fez companhia, no segundo em que liberei-o contra o microfone.  


"Put your lips close to mine, as long as they don't touch. Out of focus, eye to eye, till the gravity's too much. And I'll do anything you say, if you say it with your hands. And I'd be smart to walk away, but you're quicksand."


Meus olhos estavam fechados, enquanto eu ouvia o som da minha própria voz ecoar pelo salão. Era estranho e me fazia querer levantar dali e correr — mas ao mesmo tempo, eu havia gostado de como aquilo soava. Havia certa simetria entre o tom que era imposto nas melodias do violão e no alcance de minha voz. Eu não forçava demais para se fazer ouvir as palavras, havia suavidade em meu timbre, uma espécie de doce confissão acerca da dualidade de sentimentos que a música desejava contar. Minha música.


"This slope is treacherous, this path is reckless — This slope is treacherous, and I, I, I like it..."






 
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Mensagem por Brendan O'Neill Sex 28 Jun - 8:06:16

YOU THINK I AIN'T WORTH A
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O som melodioso das notas do violão se propagava ao longo do quarto. A cadência do que se ouvia ali era harmoniosa e sutil; sem precipitação, o dedilhar contínuo emprestava àquele trecho da música uma atmosfera taciturna, quase angustiante. O fato é que tal aspecto conciliava-se à perfeição não somente com a minha voz — tomada por uma carga de sentimentalismo genuíno e doloroso —, mas também pelo teor amargurado cuja letra, de maneira pragmática, expressava meus sentimentos. Em suma, tratava-se de um desabafo inconformado acerca de um amor ilusório, que chegara ao fim somente para uma das partes dessa trama — eu, nesse caso, fazia o papel de sofredor largado com o próprio desapontamento. Minhas composições, aliás, tendiam para esse lado emocional, explorando as mais diversas sensações universais inerentes à vida. Pois na minha concepção, a ideia de poder conectar as pessoas e fazê-las se identificarem através destas letras me fascinava de forma indescritível. Portanto, fisgado pela súbita força inspiradora que me fisgara neste dia, prossegui entoando o meu lamento:

I gave you everything I had — it's true and you know it;
Now I see that, in return, my pride was ripped apart by your...

De repente soaram as batidas dançantes de "The Boys Are Back in Town" do Thin Lizzy no meu celular; interromperam meu instante poético e me despertaram do transe criativo. Suspirei pesadamente, odiando ter de cessar meu momento artisticamente fértil, e deixei o instrumento de lado. Logo um resmungo irritadiço me escapou enquanto me erguia impacientemente da borda da cama para buscar o bendito aparelho. Ao atendê-lo, fui surpreendido pela seguinte — e inesperada — proposta:

Bluebird Cafe hoje à noite. Fechado? — Era Thomas McAdler, um velho conhecido do ramo de produtor em gravadoras de Nashville, evidenciando seu habitual modo objetivo de se expressar.

Hm? Nem mesmo um boa-tarde antes? — tratei de responder, sem sequer me dar ao trabalho de disfarçar a ironia nas palavras.

Desde quando você liga pra essas coisas, Bren? Escuta, às 22h, falou? Acho que vai rolar algo interessante. Aparece lá. Me encontro contigo um pouco depois.

Eu não estava particularmente interessado em bancar o espectador, tampouco me fingir de caça-talentos, mas a verdade é que o Bluebird Cafe — o qual cheguei a frequentar em certas ocasiões — revelava uma turma promissora, confesso que bem relevante no tocante à música. Era comum surgir alguém por lá com potencial, expondo seus inventos, e isso me atraía de alguma forma. Thomas certamente sabia disso ao me lançar o convite — e devo admitir que o desgraçado me deixara tentado.

Tá bom, cara. Escuta... — Se ele pudesse testemunhar meu semblante nessa hora, seria brindado com a expressão debochada e ligeiramente irritadiça que eu ostentava. — Farei o possível pra ir, tá? Agora me deixa em paz, preciso compor minha música. See ya. — E encerrei a ligação; não lhe dei brecha para resposta.

Porém... que música, afinal? Todo o meu lampejo produtivo fora comprometido assim que o maldito Thomas me ligara. Agora eu só conseguia pensar em se deveria ou não comparecer ao Bluebird Cafe. Depois de desfazer a chamada, gastei um bom tempo refletindo a respeito dessa questão. Como se fosse o maior dilema que eu vivenciava em toda a minha existência. Ao final, após muita ponderação, me convenci de que uma ida àquele lugar não seria de todo ruim, ora. Sempre havia a possibilidade de que talvez alguma das apresentações pudesse me surpreender. Nunca se sabe. Então verifiquei o horário e percebi que dispunha de algumas horas livres — muitas, na verdade — antes de partir. Me decidi por voltar a tocar o violão e cantar; ou, sendo mais específico, ao menos tentei, levando-se em conta que minha mente cedera à distração e pensava sobretudo na programação porvir.

♠

Foi por volta das 21h45 que saí de casa e iniciei o trajeto ao Bluebird. Não chegou a ser um percurso tão duradouro, diga-se de passagem. Quando adentrei o lugar — demasiado familiar para mim —, um pouco depois das 22h, de imediato meus olhos puseram-se a saciar minha curiosidade varrendo toda a extensão do ambiente. Como de costume. O Bluebird, um tanto obscuro e excêntrico, era de fato peculiar em sua aparência; não obstante, eu considerava-o acolhedor. Gostava verdadeiramente dali. Verifiquei o rol de silhuetas presentes nos diversos pontos ao redor e também o notável palco em que ocorriam as apresentações — inclusive nesse exato momento — à medida que rumava no sentido do bar, onde pude me acomodar e prontamente solicitar três doses de uísque. Sem pretensão de arriscar expor minha nova canção esta noite — digo, apenas fragmentos do que compus —, certamente eu gastaria meu precioso tempo me limitando a beber e me atentando à sessão de espetáculos no palco nas próximas horas.

Então algo intrigante aconteceu. Mal eu havia me instalado rente ao balcão e começado a me permitir alguns goles da bebida, uma jovem e atraente garota, relativamente próxima de mim — estava num assento a poucos metros —, colocou-se de pé no que parecia um ímpeto decidido para, em seguida, dirigir-se aonde se atreviam os artistas dispostos a exibir seus dotes. Lá se foi ela, ao palco disponível, e conforme meu olhar a perseguia insistentemente, cheguei a me perguntar o que uma pessoa munida de tamanha aparência cativante seria capaz de oferecer. Não que beleza fosse referência para algo relevante, claro. Seja como for, a desconhecida posicionou-se devidamente frente à plateia — era preciso enaltecer sua coragem — e enfim introduziu-se... de um jeito um tanto atrapalhado, vale frisar.

Chamava-se Elyse. Farejei seu nervosismo à distância, e tenho certeza de que não fui o único. Mas não havia nada de absurdo nisso; eu mesmo já passara por situações semelhantes. O que realmente importava no fim das contas era a música. E eis que a tal Elyse, provida de carisma e considerável atitude, deu início à sua desconhecida composição. O instrumental, como de praxe, fez-se irromper primeiro, produzindo uma espécie de clima envolvente no Bluebird. Um prólogo excelente, devo dizer. A seguir, no intuito de agregar-se ao compasso do violão, surgiu sua admirável voz proferindo a letra em surpreendente equilíbrio com o ritmo que a garota promovia. Rapidamente ouvi murmúrios de aprovação à minha volta, e eu mesmo, inteiramente entregue à cena que se sucedia no palco, me peguei impressionado. À medida que a fitava, me dei conta do quanto ela estava mergulhada em sua aura musical. Comecei a pensar que, definitivamente, ter ido ao Bluebird fora a escolha certa.

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Mensagem por Vee-Elyse van Hepburn Seg 8 Jul - 1:07:25

 
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"This slope is treacherous, this path is reckless... This slope is treacherous, I, I, I like it."


Era a segunda repetição daquele verso e dessa vez havia maior presença em minha voz. Era como se eu pudesse ouvir um pouco de mim ecoando em cada canto daquele salão. Daquele lugar onde eu estava, as faces que me assistiam não passavam de desfoque iluminado pelas luzes que provinham da traseira do palco — todas as vezes que eu piscava para um rosto ofuscante, eu podia ver qualquer coisa que eu desejasse.

Por um segundo, eu consegui ver os olhos azuis serenos e os traços refinados de minha irmã, motivando-me pelas palavrass dos versos que viriam.



"Two headlights shine through the sleepless night, and I will get you, and get you alone. Your name has echoed through my mind, and I just think you should, think you should know — that nothing safe is worth the drive and I would follow you, follow you home."

   
Os acordes do violão ganharam um novo tom, diferente do aspecto dedilhado e minimalista que seguia desde os primeiros versos; seguia fielmente a abertura de minha voz para um tom mais alto e cheio de palavras alongadas. Um sorriso pequeno ameaçou desenhar meus lábios, quando pensei capturar movimentos corporais não muito distante dali; parecia uma dança. Eu não havia escutado nenhum som próximo de vaias ou resmungos descontentes, aquilo deveria ser um bom sinal, certo?

Meus lábios se aproximaram do microfone, de forma que eu os senti roçar em contato com o metal gelado. Meus dedos congelaram nas cordas do violão, fazendo as últimas notas fazer um eco em despedida pelas caixas de som, e a única coisa que as excedia era o som da minha voz arrastada e levemente rouca, como se sussurros fossem deixados sobre o pé do ouvido de alguém.


"This slope is treacherous,
I, I, I like it."


Um silêncio ensurdecedor acompanhou o fim dos sons produzidos por mim, mas não duraram mais que alguns respeitosos segundos, antes que o ambiente respondesse a apresentação. Meus olhos se abriram para a recepção do público, eu percebi que tremia quando tentei retirar o suporte do violão que cercava meu ombro. Um risinho que mesclava o nervosismo e a adrenalina do momento escapava dos meus lábios e quando o anfitrião da noite me alcançou com um aperto de mão e um sorriso generoso eu senti que podia flutuar pelo salão em direção ao bar onde eu estive anteriormente.

Sirva a ela o que ela pedir, por minha conta, Stu! — Uma voz masculina anunciou por detrás do meu ombro, antes de apertá-los de maneira que não ultrapassava o invasivo mas demonstrava alguma espécie de interesse. Eu não o reconheci e nem tive muito tempo para isso, uma vez que ele desapareceu pelo mar de mesas e cadeiras que se estendiam além do bar. O barman me olhou com expectativa, um sorriso sugestivo em seus lábios como de quem assiste alguém achar um bilhete premiado no chão da avenida.    

Apenas uma cerveja, Stu... — Sorri, vendo a excitação do jovem atendente desaparecer e se transformar num risinho decepcionado quando não abusei da cortesia que me fora dada. Não seria eu se o fizesse, no fim das contas.

   
       





 
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Mensagem por Brendan O'Neill Sáb 13 Jul - 0:41:39

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Todos nós estávamos tomados pela mais inesperada surpresa. A garota ao palco não apenas nos brindara com o início formidável de uma interpretação de sua própria autoria, como também demonstrava a proeza de, ao longo dos minutos, permanecer fisgando nosso interesse pelas seus dotes artísticos. Digo isso com plena convicção pois, em dado momento, ousei retirar os olhos da compositora a fim de verificar a atmosfera à minha volta; e, sim, o que constatei foram amontoados de rostos cujas expressões, de um modo geral, denotavam uma espécie de veneração silenciosa.

Quando voltei a encarar a jovem de aspecto carismático, logo fui invadido novamente por uma sensação de agrado intenso. Porém não somente isso. Questões relacionados a ela também me vieram à mente. O nome, supostamente, era Elyse; mas e a respeito dos outros detalhes? O que fazia da vida? Como iniciara essa jornada no âmbito musical? Já não conseguia deter meus pensamentos, e nessa hora me certifiquei de que, se me surgisse a oportunidade, eu definitivamente trataria de perguntá-la. A propósito, talvez a chance de abordá-la fosse possível em breve, uma vez que, após um período razoável desde o início da música, tanto a voz quanto a melodia do instrumento silenciaram-se.

A apresentação, pelo visto, tivera o fim decretado. Seguiu-se um período de calmaria no salão, como se os espectadores aguardassem ansiosos uma continuação ou ainda não tivessem despertado do transe provocado pela maestria da garota. Súbito alguém que voltara a si primeiro tomou a louvável responsabilidade de prestigiá-la e fez irromper um aplauso, seguido por outro, que foi contagiando toda a gente ao redor. A partir daí, movido pela curiosidade que ela me despertara, fixei o olhar na tal Elyse, que a essa altura, com status de maior atração da noite, recebia enaltecimentos de alguns desconhecidos. Assim como eles, eu pretendia ir ao encontro dela, é claro, contudo tive a precaução de esperar por uma oportunidade viável.

Foi então que, instantes depois do término da apresentação, a garota se deslocou de volta ao bar, a poucos metros de mim. Mero golpe do destino. O fato é que a chance me surgira e eu pretendia aproveitá-la. Levantei-me do assento, trazendo comigo o copo de uísque, e avancei em sua direção. Logo encurtei a nossa distância, e, lembrando-me de qual era minha intenção ao seguir até ali, não hesitei em puxar assunto. — Então, como está lidando com essa vida conturbada de celebridade? — disse-lhe em tom claramente sarcástico ao me debruçar sobre o balcão, bem ao lado dela. Observando-a de perto, ela me parecia ainda mais agradável; seus traços eram suaves e graciosos. — Brincadeiras à parte... Apesar do nervosismo inicial, você se saiu incrivelmente bem. Quando te vi no palco, confesso que tive minhas dúvidas quanto à qualidade do que seria apresentado. Não me leve a mal, mas muitas garotas assim feito você, de beleza chamativa, já passaram por esse palco e revelaram uma falta de talento absurda.

As recordações dessas circunstâncias passadas arrancaram-me um risinho debochado. De repente ergui em riste o indicador da destra, buscando sinalizar um "Com licença"; foi quando eu me servi de um gole generoso da bebida e soltei um suspiro indiscreto de satisfação. — Aliás, me chamo Brendan. Sou mais um membro do seu recente fã-clube, Elyse. Digo... Esse é mesmo seu nome? Tenho experiência suficiente pra saber que nomes artísticos estão em alta hoje em dia. E se me permite perguntar... O que te trouxe ao Bluebird justamente hoje? É a primeira vez que a vejo aqui. — Não pude me conter; precisava exprimir todas aquelas perguntas se quisesse amenizar minha curiosidade. Nisso, uma nova apresentação se instaurava no palco; tínhamos um rapaz franzino — o enxerguei de relance — ocupando a vaga que agora há pouco pertencia à jovem com quem eu interagia.

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Mensagem por Vee-Elyse van Hepburn Dom 21 Jul - 3:12:06

 
treacherous
reckless.
Eu havia pensado que tinha visto o máximo de demonstração aleatória provinda de desconhecidos para aquela noite antes dele chegar até mim. Eu não o percebi chegando, afinal, estava concentrada demais em parecer ocupada estudando o catálogo de bebidas dispostas no bar, na intenção de evitar que qualquer outro homem cuja face eu nunca havia visto antes cambaleasse até mim para trançar no meio de uma congratulação sobre minha apresentação um pedido de "Podemos beber algo depois?"

Dois haviam ido-e-vindo no espaço de tempo em que Stu precisou para atender suas demandas e me trazer a cerveja — fora justamente após a primeira golada que eu o escutei chegar. Brendan, foi como se apresentou, seguindo um comentário irônico sobre meu status inexistente de celebridade, olhares analítico, um discurso tão analítico quanto acerca da minha apresentação e um risinho zombeteiro que eu não consegui identificar imediatamente o porquê.

Eu apenas pude perceber que ele tinha presença.
Ele era um jogador; isso estava explícito em seus gestos — como aquele em que ergueu o dedo para me pedir um tempo até que tomasse um gole de sua bebida, confiante, mas sem parecer rude —, estava explícito nas suas tentativas cômicas de julgar a boa recepção que tinha sobre minha performance — me fazendo sentir encabulada mas lisonjeada por causar boa impressão suficiente para receber gratuitamente um elogio sobre minha aparência física, sútil e estrategicamente colocado —, e também nas suas perguntas.  

  
Ele era do tipo que fazia perguntas, e eu lia isso como alguém que abria caminhos para estender uma conversa.
 
       

"Elyse. Digo... Esse é mesmo seu nome?

E se me permite perguntar... O que te trouxe ao Bluebird justamente hoje?"


Meus olhos não se afastaram da figura masculina pelos poucos instantes em que ele se pronunciou; um sorriso polido desenhava meus lábios quando estes não estavam escondidos detrás da caneca de cerveja. Mais uma pouco e eu pareceria arrogante em meu silêncio comportado dando-o espaço para se abrir diante do bar — Eu agradeço e fico feliz que tenha gostado, mas, não sou nenhuma celebridade, talvez uma estrela passageira, como uma cadente — ergui a caneca, num sinal de cumprimento humilde ao tal Brendan. Eu certamente não o conhecia ou havia escutado falar sobre; mas havia algo sobre seu comentário de não ter me visto antes por ali que fazia fincar a ideia de que ele não era um novato naquelas redondezas. Talvez fosse apenas o excesso de confiança que ele exalada, como se fosse capaz de reconhecer cada face que passasse por seu radar.        

E bom, o meu segundo nome é Elyse, então, não contei nenhuma mentira, tecnicamente... — sorri, dando uma nova golada na cerveja; estava deliciosamente gelada, me fez gemer de satisfação por um instante — É a primeira vez que venho aqui sozinha, então, devo parecer mais vulnerável as vistas, sabe? Andar em grupo tende a ser mais intimidador e mascarado, poucos estudam individuo por individuo quando estão em grande número — mais um gole na cerveja, dessa vez para me calar.  


"Poucos estudam individuo por individuo quando estão em grande número"?!?

O que diabos eu estava fazendo?


Eu parecia uma guia de apresentação num museu de ciências naturais falando daquela forma. Larguei a caneca no balcão, livrando minha mão destra na intenção de erguê-la diante do rapaz, incitando um aperto amistoso. — É a primeira vez que o vejo, então, é um prazer conhecê-lo, Brendan... se esse for mesmo o seu nome — pisquei, exibindo um traço sarcástico no canto esticado dos meus lábios enquanto olhava traço a traço do semblante compenetrado masculino, tentando conhecê-lo por meio da atitude que ele expressava com o pouco de pele tatuada que mostrava sob as roupas, com o copo de uísque que trazia consigo como um companheiro, e até mesmo em seus olhares atenciosos e intimidantes.    
   
 



 
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Mensagem por Brendan O'Neill Sáb 27 Jul - 7:37:53

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A todo momento, enquanto prolongava o diálogo junto à recém-conhecida, eu tentava preservar a postura confiante e prepotente com a qual havia a abordado. Muitos decerto julgariam como petulante tal atitude. Porém, em minha defesa, tratava-se naturalmente do meu caráter habitual; afinal, eis aqui um irlandês sagaz e audacioso. Além disso, me agradava a ideia de transmitir uma imagem irreverente às pessoas à minha volta. Então quando a vi ali sozinha após sua memorável apresentação no palco, não pude conter o impulso de conhecê-la. Agora estávamos tendo uma interação, a meu ver, promissora — embora ainda fosse cedo para suposições. — Uma estrela passageira. Compreendo. — Quanta modéstia para alguém cujo dote artístico impressionara até os mais céticos do Bluebird. No entanto preferi não contestá-la, e com meu copo de uísque, me limitei a retribuir seu sinal de cumprimento.

Entre um gole e outro da bebida, tomei a liberdade de manter os olhos bem atentos às feições da morena à medida que ela se ocupava em proferir respostas às minhas palavras. Não era raro nossos olhares se encontrarem, porém não se via malícia em meio à interação, somente uma curiosidade mútua e crescente envolvendo nós dois. — Então é mesmo Elyse, hm? Ponto positivo para você, que decidiu se manter fiel ao próprio nome. Detesto pseudônimos. — A fim de enfatizar meu repúdio à revelação, deixei um denso suspiro vir à tona ao passo que dava de ombros num gesto esnobe. Mas logo esbocei um sorriso cortês. — E você tem razão. Vê-la aqui sozinha acabou atiçando ainda mais minha curiosidade após a apresentação. Certamente eu não teria tido a ousadia de cumprimentá-la se estivesse rodeada de amigos. Apesar da vontade que com certeza eu sentiria. Acho que seria difícil resistir.

Por mais que aquilo soasse pretensioso, como se meu intuito ali fosse achar brechas a fim de flertá-la, eu poderia jurar que definitivamente não era a intenção. O fato é que minha franqueza e transparência às vezes passavam uma conotação precipitada ao me expressar. Pensei se deveria precavê-la sobre isso, porém, de repente, ao ver de relance sua destra sendo estendida a mim, meu foco tornou-se outro; pronta e delicadamente apertei-lhe a mão. — Ora, o prazer é meu, senhorita. — Um risinho divertido me escapou assim que captei a inofensiva provocação de Elyse. — Meu nome é Brendan. Definitivamente. Isso eu te garanto. — Nessa hora confesso que apreciei, e muito, o senso de humor apurado daquela garota. Me surpreendeu positivamente. Aliás, existia algo nela que me atraía de um jeito quase irresistível — no melhor sentido possível, é claro.

Contudo, após o breve instante de descontração, me desfiz dos meus traços amistosos demais e assumi, no lugar destes, um semblante relativamente sério e ponderado conforme a fitava. — Sabe, há um motivo específico para que eu tenha vindo aqui trocar umas palavras com você. — Passei a encará-la de maneira significativa nessa hora. — Sua apresentação. — Seguiu-se uma pausa repleta de suspense para que eu me servisse de um novo gole do uísque. — Venho ao Bluebird com bastante frequência, ora como músico, ora como mero observador. Hoje optei pela segunda opção. E Elyse... Você me causou uma impressão excelente. Na verdade, em toda a plateia. Eu sinceramente não esperava tamanho talento.

Súbito me permiti a última dose da bebida; agora o copo repousava vazio ao balcão. — Quero te fazer uma oferta. Escuta bem... Trabalho nesse ramo musical há um tempo considerável. Modéstia à parte, tenho bastante experiência e contatos na cidade, o que é essencial. Portanto quero te dar esse empurrão inicial, entende? Caso tenha interesse... — Durante meu discurso comecei a remexer no bolso da calça, e deste enfim retirei meu celular. — Sei que vai soar meio absurdo, mas poderia registrar seu número aqui? — Balencei sutilmente o aparelho. — Não, não é uma tática com segundas intenções — apressei-me em dizer, por razões óbvias, e deixei um riso me fugir. — Sou apenas... objetivo. E gosto de auxiliar novos compositores. Acho que tenho um coração muito bom, né? — Ergui os braços no ar num gesto que traduzia-se em "O que posso fazer?". — Além do mais, não sei quando nos veremos novamente. Bem... Aprecie sua cerveja e sinta-se à vontade para pensar a respeito. Posso aguardar o tempo que for necessário.

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