[rp fechada] And my pride is all I got

Não haveria nada de mau em uma garota dançar tão próxima de outro cara; era só uma música e um casal de bêbados rindo como se compartilhassem da mais hilária piada já contada. O problema estava exatamente no casal. Miranda & Henry. Sequer eram um casal. Afinal ela era oficialmente namorada do veterano mais amado da Vanderbilt, Michael Kinney. Porém o relacionamento tinha lá seus altos e baixos, o que não impedia a garota de estar junto de outro estudante da universidade. Era por uma boa causa. Mandy já sentia-se nauseada pelo perfume forte de Henry, mas continuaria a aturar aquilo por mais um tempo se fosse preciso. Ela apenas usava ele como um peão em seu joguinho de revide ao ego ferido.

Do outro lado da piscina, um par de olhos azuis estava cravado em cada movimento seu, e por um segundo ela se virou para encará-lo, Michael parecia totalmente tomado pelo ciúmes, ela via a fúria em seus olhos. Foi o suficiente para fazer brotar nos lábios da morena um sorriso presunçoso. Ah, o doce sabor da vingança. Num piscar de olhos, a figura de Michael desapareceu de seu campo de visão, fazendo-a então sorrir vitoriosa pela revanche. Seu corpo girou de frente ao jogador de futebol americano que a abraçava com certa propriedade, era o momento de sua saída triunfal. Agora todos sabiam que não deveriam jamais brincar com ela, e se Michael fosse esperto o bastante, não voltaria a cruzar seu caminho. Ele havia conseguido despertar o demônio em seu coração e agora restava apenas raiva ali. Raiva e álcool, uma mistura perigosa.

E antes que pudesse depositar um beijo de agradecimento no rosto do moreno em um ato final, Miranda apenas observou o corpo dele ser lançado para longe. A garota levou alguns segundos para finalmente entender o que se passava. O copo vermelho de plástico em sua mão destra voou para longe, ainda que estivesse na metade, e ela sentiu pelo conteúdo dele. Poxa, queria muito aquele whisky. Parou então para apreciar a troca de agressões que ela havia causado e não foi surpresa ver sangue surgir, o aglomerado de pessoas que se reuniram em volta para observar a luta apareceu sem que ela notasse, tornando-se assim mais uma expectadora. Não foi preciso sequer pensar para saber de quem se tratava quanto aos envolvidos. Ah se ele soubesse que essa era a vontade que ela tinha de fazer com a loira que havia o agarrado antes... foi o fim. Sentiu falta de ar, precisava respirar e também de outro copo de bebida. Urgente. Era mais do que ela podia aguentar.

Miranda sentia o olhar de todos naquela festa sobre si enquanto atravessava a multidão de estudantes bêbados. Pouco se importava pelo show em que havia sido uma das protagonistas, só queria sair dali o mais rápido possível, esquecer da existência de Michael para todo o sempre. Como ela pôde ser tão tola? Acreditar que ele poderia ainda ser fiel… que ele mudaria? Seu príncipe havia provado ser um belo de um sapo. Era impressão ou metade do corpo discente da universidade estava ali na festa de celebração da Beta Alpha Xi pela vitória da copa grega? Não fazia questão, Mandy empurrava qualquer um que se pusesse em seu caminho, ainda que o álcool mantivesse sua visão um tanto turva e desfocada. A música era alta, mas não o bastante para que ela pudesse fingir não escutar o rapaz gritando por seu nome, Michael estava em seu encalço.

Ela desejava parar ali mesmo, no meio do hall de entrada da casa da fraternidade e bater nele, xingá-lo até que sumisse de sua mente a imagem de Alice pendurada no pescoço do loiro e o beijando. O que Miranda fez em revide foi algo imprudente, ela não pensou. Agiu por impulso, num reflexo do puro ódio que fazia suas mãos tremerem e o sangue ferver. — ME ESQUECE, MICHAEL! — A plenos pulmões ela gritava sem sequer conseguir reunir coragem para olhar para trás. Desejou mais que tudo que um meteoro atingisse aquela festa, que desse cabo de todo aquele pesadelo e que ao menos assim seu coração quebrado deixasse de bater de uma vez por todas.

— VÁ BEIJAR A VADIA DA ALICE! — Com brusquidão ela cessou os passos, girando o corpo sobre o próprio eixo, sentindo tudo rodopiar ao seu redor. Focou na figura do rapaz em sua frente, sendo tomada de imediato pelo arrependimento de ter decidido que a presença dos dois seria importante naquela festa. Era como se todos os eventos anteriores não houvessem sido o suficiente para ensiná-la que misturar bebida alcoólica ao seu comportamento infantil e ao ciúmes de Michael não era algo a se fazer. E então vieram as lágrimas.

— Acabou... — Miranda sentiu o peso de uma única palavra ser o suficiente para derrubar seu muro de garota forte e inquebrável. Ele estava tão perto, mas ao mesmo tempo tão distante. Inalcançável. Ainda que sua mente gritasse para que ela corresse, para que fosse para longe, seus pés não se moviam. Os soluços e o choro a faziam parecer uma menininha, tão pequena e frágil. A inatingível Miranda Vloet-Westbrook sequer tentou esconder as lágrimas em meio ao mar de gente que os cercava. Agradeceu pela música alta e pelo álcool, assim não ficava em evidência o quão vulnerável era.

Não era a primeira vez com que Miranda se deparava com o jeito possessivo de Michael, já que muitas vezes ela o provocava por pura birra sua. Em muitos aspectos eles se completavam, perfeitos um para o outro. Ele a fazia rir, era sempre tão carinhoso e a fazia flutuar nas nuvens quando a tocava. Só que com uma facilidade muito grande iam do paraíso ao inferno em questão de segundos. Ali, parada diante dele e encarando seus olhos azuis, Mandy tinha a sensação de que não existia mais ninguém no mundo, só os dois e seus corações partidos.

Miranda não queria mais escutar desculpas, estava completamente farta de toda aquela situação. — Eu não posso mais, Mike. — E o ódio se dissipou por um segundo enquanto o encarava tão perto, era quase palpável o desespero no tom de voz dele. Ela não queria ter dito aquilo, o arrependimento veio em seguida, mas não poderia mais. Precisava de um tempo para pensar, se afastar dele seria o melhor naquele momento. — Me deixa ir. — O pedido quase inaudível foi feito em referência não somente ao instante aquele, mas em relação a toda a história dos dois. Pousou ambas as mãos sobre as dele ao redor de sua face já vermelha devido ao pranto.

Lentamente as afastou, negando a ele qualquer chance de se redimir. Os sentimentos estavam bagunçados, a raiva se sobressaindo sobre qualquer pensamento ao fazê-la relembrar a cena do beijo. Deu um passo atrás, gravando em sua mente o rosto dele e soltando as mãos. Virou-se à saída, querendo sumir naquele momento, mas não sem antes furtar de um dos veteranos ali uma garrafa de bebida. Ouviu os protestos, mas não fez questão sequer de checar a quem pertencia, rumando de uma vez por todas até os jardins na parte da frente da casa.

Por um momento ponderou sobre a quem chamar para resgatá-la daquele inferno. O rosto de Charlie foi o primeiro a aparecer em sua mente, ele, com certeza, ofereceria um de seus abraços quentinhos e a escutaria. E Lúcifer estaria se divertindo a sua própria maneira. Resolveu que lidaria com aquela situação por si só. Sentou-se na escada da varanda, era o mais longe que conseguiu ir em seu estado de total embriaguez, abraçou os joelhos e se permitiu chorar outra vez e prometeu a si mesma que era a última vez que derramaria uma lágrima por ele.